Por Lucas Conejero
Na noite da última da quinta-feira, 23, enquanto centenas de oficiais da reserva aplaudiam discursos macartistas no Clube Militar do Rio de Janeiro, aproximadamente 300 pessoas se reuniam em ato público “contra o golpismo midiático e em defesa da democracia” na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Acusado pelos principais veículos da “grande mídia” de ser um ato “contra a imprensa e a liberdade de expressão”, o encontro reuniu representantes das mais importantes centrais sindicais do País, do movimento estudantil e social. Entre os presentes, muitos que arriscaram a vida pela democracia e pela liberdade nos anos de chumbo.
Convocado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade que reúne na sua direção, jornalistas, blogueiros, acadêmicos, veículos progressistas e movimentos sociais, o evento superou as expectativas da organização e aproximadamente 300 pessoas se aglomeraram no Auditório Vladimir Herzog. O espaço suporta no máximo 200 pessoas.
Durante mais de uma hora, discursos inflamados seguidos de aplausos e palavras de ordem vazaram pelas janelas da sede do sindicato causando curiosidade nos populares que circulavam pelas ruas do centro da capital paulista.
“A proposta de fazer o ato no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo teve uma razão simbólica. O ato, como já foi dito e repetido – mas, infelizmente, não foi registrado por certos veículos e colunistas –, foi proposto e organizado antes mesmo do presidente Lula, no seu legítimo direito, criticar a imprensa “partidarizada” nos comícios de Juiz de Fora e Campinas”, bradou o jornalista e presidente do Centro de Estudos Altamiro Borges.
De acordo com Borges, os veículos fizeram questão de afirmar que seria um acontecimento chapa branca e governista. “Esta visão autoritária, contrária aos próprios princípios liberais, fica explícita quando se tenta desqualificar a participação no ato das centrais sindicais e dos movimentos sociais, acusando-os de serem “ligados ao governo”, completou.
O presidente do sindicato, José Augusto Camargo, o Guto, foi mais incisivo e argumentou que alguns veículos da “grande imprensa” clamaram pelo golpe de 1964, apoiaram a ditadura, omitiram a tortura e criaram impérios durante o regime militar.
“Os inimigos da democracia não estão no auditório Vladimir Herzog”, disse Guto com o dedo em riste. Diga-se de passagem, Vladimir Herzog era jornalista e foi assassinado em 1975, sob tortura, pelo regime totalitário e inconstitucional que recebeu apoio dos principais veículos de comunicação do País.
“Interessante é o fato dos mesmos veículos, no atual contexto histórico, ressurgirem como baluartes da democracia e da liberdade”, comentou o blogueiro e jornalista André Carvalho.
Ficou nítido o desconforto de alguns repórteres que cobriam o evento. Em cada ataque aos veículos, eles se entreolhavam. Entre espantados e assustados, anotavam as principais frases e tentavam ao máximo passar despercebidos. Quando indagados se alguma daquelas frases caberia na política de conteúdo editorial do veículo em que trabalha, a resposta foi um sorriso amarelo, de canto de boca.
De repente, um alvoroço tomou conta do espaço. Era a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina. Muito respeitada entre a militância, subiu à mesa, tomou o microfone para encerrar o ato e discursou: “todo esse ódio que sentem [referindo-se à grande mídia] é pelo fato de um operário brasileiro ter obtido sucesso como presidente da República”. O auditório veio abaixo. Antes de saírem, os presentes, com os punhos erguidos e fechados, cantaram o hino nacional.