Política
Uma confissão sub-reptícia CLÓVIS ROSSI
Folha de São Paulo - 05/06/11
A chave do esquema Palocci aparece na seguinte frase de sua entrevista à Folha: "Quando a empresa [a que dava consultoria] tinha que lidar com órgãos públicos, não era a Projeto [a sua empresa] que fazia isso".
Digamos que seja verdade, toda a verdade. Digamos também que seja legal. Mas é imoral, aético, indecente, não republicano.
Seria preciso não a boa-fé que Palocci cobrou na entrevista à Globo, mas uma supina ingenuidade, uma inocência totalmente fora da realidade para acreditar que não há nessa situação uma promiscuidade clara entre o público e o privado.
Vejamos como funcionam as coisas: uma empresa contrata a consultoria de um deputado que havia sido ministro da Fazenda, é um quadro importante no partido do governo e, logo, se torna ainda mais importante, ao ser designado coordenador da campanha da candidata favorita à Presidência da República, afinal eleita.
O deputado-consultor-futuro ministro dá as dicas que considera oportunas e, na hora em que a empresa que o contratou precisa "lidar com órgãos públicos", dispensa os conselhos do consultor, esquece de dizer ao órgão público que tem contrato com Antonio Palocci?
Você acredita nesse comportamento angelical?
Enfim, depois de toda a "enrolation" levada ao ar na sexta-feira e ao papel ontem, quem sabe das coisas, como Fernando de Barros e Silva, dá Palocci como liquidado. Pode ser, mas o assunto não deveria ser liquidado se ainda sobrou alguém interessado em moralidade pública.
Primeiro, é preciso investigar quais entre as contratantes de Palocci tiveram que "lidar com órgãos públicos" e no que resultou a lida.
Segundo, é preciso acabar com o duplo emprego de parlamentares. Ou bem o sujeito é deputado ou senador ou bem é consultor. As duas coisas criam uma sórdida parceira público/privado.
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