uma pequena década perdida para a humanidade, uma grande década ganha para a guerra perpétua
Política

uma pequena década perdida para a humanidade, uma grande década ganha para a guerra perpétua


Hans Hollein, "Superstructure Over Manhattan", 1963
Dois em cada três norte-americanos acreditam que o 11 de Setembro tem mais a ver com o estado actual de crise na economia do que com o terrorismo. Se juntarmos que nos Estados Unidos um em cada dois cidadãos não tem qualquer participação em actos eleitorais, que a Câmara dos Representantes é eleita apenas por um terço da população, temos o retrato perfeito sobre a mentira mediática e a fraude politica que enformam hoje “a maior democracia do mundo”. Vista de fora a imagem dos EUA não é melhor: 58% dos franceses duvidam da versão oficial dada pelo governo norte-americano para os atentados e os europeus em geral pensam que o 11/9 foi o pretexto para a superpotência poder justificar intervenções militares no exterior com fins inconfessáveis.

A guerra imediatamente decretada contra os “combatentes ilegais” do presidente Bush não poderia ter sido iniciada: “não se declara guerra a uma organização terrorista” (1), isto é, a populações civis inteiras, guerra para a qual não existe inimigo credível nem suporte legal (2). Mesmo assim, (ainda muito antes de George W. Bush ter sido “eleito”) no Plano para o Novo Século Americano (PNAC) porque nesse programa já estava inscrita “a necessidade de um novo Pearl Harbor” para a América poder sair da crise latente e ultrapassar a falência do capitalismo, Bush em Fevereiro de 2002 foi peremptório: “a guerra contra o terrorismo anuncia um novo paradigma que exige uma nova forma de pensar o Direito de Guerra”. O mesmo George W. Bush que de visita à Europa em discurso a 23 de Maio de 2002 proferido no Bundestag alemão confirmou a execução do PNAC: “fomos atacados de forma tão violenta e clara como em Pearl Harbor” – ao fim e ao cabo tratou-se de um coup d`etát de um bando de facínoras alcandorados aos mais altos postos da hierarquia de dominação global: 17 dos autores do Programa para o Novo Século Americano viriam a fazer parte da administração Bush. O seu falcão nº 1 Donald Rumsfeld em Dezembro de 2001 deu então o mote para o início da carnificina justificada com a politica de genocídio: “Não fomos nós que começámos esta guerra. Por isso, percebam: a responsabilidade por cada vítima inocente, sejam afegãos ou americanos, é da Al-Qaeda e dos Talibans”. (3)












Se o Afeganistão não tinha nada a ver com o 11 de Setembro, em Agosto de 2002 o vice-presidente Dick Cheney já tinha feito o upgrade da situação e afirmava: “em termos simples, não há dúvida nenhuma de que Saddam Hussein agora possui armas de destruição maciça” que mais não era que o desenvolvimento da expressão de Bush (que mais tarde iríamos ver fardado de aviador da tanga) em Março de 2002 quando desabafou: “que se lixe Saddam Hussein, vamos dar cabo dele” (4)
Esta frase papagueada pelo presidente dos EUA por sua vez mais não é que a divisa inscrita nas fuselagens da esquadrilha de aviões de ataque AC-130 Spectre: “que se lixe, vou matar qualquer coisa” (Fuck, let`s kill anything). Pegando apenas neste item avulso, estas sofisticadas máquinas de guerra são fabricadas pela Lockeed-Martin e tinham em 2002 um preço de 190 milhões de dólares por unidade. Esse avião já estava presente no Laos durante a guerra do Vietname desde 1960, continua em actividade desde a invasão do Iraque a partir de 2003, passando por acções de intervenção militar imperialista em Grenada (1983), Panamá (1989), Guerra do Golfo (1991), Somália (1993), Bósnia (1995) e Afeganistão (2001) - Foi ao seu recurso e a uma proposta do Pentágono para uma operação de intervenção dos SEAL nos campos de treino dos Talibans no Afeganistão em 1999 que Bill Clinton se tinha negado a avalizar por “ser demasiado evidente e trazer mau nome e desprestígio para a América”. Tudo isso foi ultrapassado com o 11 de Setembro. O negócio do armamento e a politica do keynesianismo militar não pode parar. (6) Tornou-se urgente foi arranjar povos inteiros que estejam dispostos a pagá-la. É disso que trata a “crise”.

Tanta sofisticação em demonstrações de poderio militar - orgulho de tanto idiota que não se enxerga tratar-se de um processo de dominação sobre uma nova geração de escravos a nível global – trazem inevitavelmente uma nota de humor: para os milionários aviões Spectre ou C-5 Galaxy, os alvos mais ameaçadores que se encontram é uma bateria de foguetes rudimentares atrelados a uma carroça puxada por um burro (fonte: Indymedia)

Até agora, a guerra contra o terrorismo já consumiu dez anos, três triliões de dólares (5) e aproximadamente um milhão de vidas. Não vencemos. Não estamos a vencer. Não venceremos
(Dominic Streatfeild)
o Silêncio


(1) V. Pulido Valente “O 11 de Setembro não acabou”, Público 11/9, 2011.
(2) “The One Percent Doctrine: Deep Inside America`s Pursuit of its Enemies Since 9/11”, Ron Suskind, 2006
(3) Todas as citações foram retiradas do livro de Dominic Streatfeild “Uma História do Mundo Depois do 11 de Setembro”, 2011
(4) The Italian Letter: How the Bush Administration Used a Fake Letter to Build the Case for War in Iraq”, 2007
(5) Joseph Stiglitz: “The Three Trilion Dólar War”, 2008
(6) Obama deu o aval e continuou a politica da CIA de aprisionamento, rapto e transferência ilegal de dissidentes de qualquer região sujeita à intervenção de tropas norte-americanas (fonte)
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