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Uma só guerra Soldados americanos resgatam civil ferido: combates numa fronteira porosa |
A fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão pode muito bem ser chamada de Talibantão. Depois de derrotados no início da década, os fanáticos de turbante negro e seus amigos da Al Qaeda se refugiaram em suas montanhas. Lá, associaram-se aos chefes tribais e voltaram a reunir um exército. A linha de 2 400 quilômetros que separa os dois países é simbólica. Por se sentir prejudicado na demarcação ocorrida 100 anos atrás, o Afeganistão nunca aceitou o traçado. Os pastuns e os balúchis, povos que vivem em ambos os países, a ignoram. Para as tropas da Otan que lutam para pacificar o Afeganistão, o resultado é uma guerra que não pode ser vencida apenas em um país. O melhor resumo da encrenca foi feito pelo diplomata americano Richard Holbrooke, que cunhou o termo Af-Pak, contração de Afeganistão e Paquistão. "Não é apenas uma tentativa de economizar oito sílabas, mas de imprimir em nosso DNA o fato de que só há um teatro de guerra", disse. O neologismo pegou.
Com 30 000 soldados e quarenta caças F-16, o Paquistão tenta sufocar os talibãs do seu lado da fronteira. O foco da ofensiva é o Waziristão do Sul. Dessa área tribal autônoma saíram os terroristas para uma série de atentados recentes nas grandes cidades paquistanesas. De quando em quando, os americanos ajudam enviando aviões teleguiados para bombardear pontos específicos em território paquistanês. É do lado ocidental da fronteira que os americanos estão concentrando seus esforços, à medida que vão deixando o Iraque. É uma estratégia sensata. O Exército e a polícia iraquianos somam 650 000 homens. No Afeganistão, são meros 170 000, menos da metade do necessário. Ainda há 120 000 soldados americanos no Iraque, o dobro do contingente aquartelado no Afeganistão. A insurgência talibã é combatida em áreas rurais e montanhosas de difícil acesso. Para piorar, o governo afegão, dominado por pastuns e tadjiques, tem legitimidade quase nula fora da capital, Cabul. Após eleições descaradamente roubadas por todos os candidatos, mas principalmente pelo atual presidente, Hamid Karzai, o segundo turno foi marcado para 7 de novembro. O general americano Stanley McChrystal, comandante das forças da Otan, pediu um reforço de 40 000 homens. O presidente Barack Obama deve anunciar em breve se, quando e quantos soldados pretende enviar. O problema dos americanos é que o sucesso de sua guerra depende das conquistas do Exército paquistanês em sua quarta tentativa de controlar Waziristão do Sul.
Enquanto as áreas tribais do Paquistão forem dominadas por militantes islâmicos e servirem de refúgio para terroristas do Talibã e da Al Qaeda, não há milagre que salve os americanos de mais um atoleiro. Na semana passada, outro vizinho incômodo complicou ainda mais a situação. O Irã, que também faz fronteira com o Afeganistão, adiou a decisão sobre a enésima proposta para cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). As tentativas de diálogo com os iranianos estão se esgotando, mas a última coisa que os americanos querem é ter de usar a força contra um país com o dobro da população do Afeganistão e duas vezes o tamanho do Paquistão. De atoleiros, já bastam o Af-Pak e o Iraque.