BRASÍLIA - Ao nomear Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca, a
presidente Dilma Rousseff tenta matar dois coelhos com uma cajadada
só, ou melhor, com uma canetada só. Quer satisfazer o PRB e, ao mesmo
tempo, acalmar os evangélicos, de olho no Congresso e na eleição para
a Prefeitura de São Paulo.
Crivella é senador do PRB, partido que não tinha nenhum ministério até
agora, coitado, e tem um nome para a prefeitura, Celso Russomanno, que
lidera as pesquisas e pode tirar votos do candidato do PT, Fernando
Haddad. Uma coisa -o ministério- pode compensar a outra -o fim da
candidatura de Russomanno.
Mais que isso, Crivella é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e
influente integrante da chamada "bancada evangélica", que anda de mau
humor com o Planalto e com Haddad por erros e por acertos do governo:
a nomeação da ministra Eleonora Menicucci (Mulheres), defensora
assumida do aborto; a convocação do ministro Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral da Presidência) para que as esquerdas travem uma
"disputa ideológica" com as igrejas pela "nova classe média"; e o kit
anti-homofobia do MEC à época de Haddad.
Colocados os dados políticos da escolha de Crivella, vem a pergunta
que não quer calar: o que o senador evangélico entende de pesca?
Provavelmente, nada, o que não é nem mais nem menos do que seus
antecessores no governo Dilma, os petistas Luiz Sérgio, que conseguiu
a proeza de pescar duas demissões num único governo, e Ideli Salvatti,
que virou ministra da articulação política e foi jogar o arrastão em
águas mais profundas -no Congresso.
Essas escolhas apenas comprovam que o Ministério da Pesca é uma
abstração e foi criado exatamente para isso: acomodar interesses e
aliados políticos, além de justificar uma penca de emendas
parlamentares. Poderia ser o ministério do frango, da soja, do gado de
corte, do gado leiteiro, quem sabe das almas?