Einstein digerível
As atrações interativas de uma mostra sobre o cientista
ilustram suas teorias complexas com experiências simples.
Ninguém sai de lá mestre em física – mas a visita enriquece
Marcelo Marthe
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Albert Einstein descobriu a ciência aos 5 anos, graças a um estímulo prosaico: uma bússola que ganhou do pai. Ali nasceu sua curiosidade pelo modo de funcionamento do universo – a mesma curiosidade que mais tarde o levaria às suas descobertas revolucionárias sobre a natureza da matéria, do tempo e do espaço. Desde a semana passada, o maior cientista do século XX é tema de uma exposição em São Paulo (que passará ainda por outras capitais nos próximos meses). A mostra Einstein quase não traz relíquias – o máximo que se vê são réplicas de cartas e manuscritos, além de um relógio e uma gravata que pertenceram a ele. O foco é outro: proporcionar uma imersão nas idéias de Einstein. Por meio de atrações interativas, as pessoas são apresentadas a conceitos complexos como os da teoria da relatividade (veja quadro). O uso do entretenimento para transmitir noções educativas tem alvo certo: as crianças e os adolescentes. Têm feito sucesso mostras que se propõem a servir de "bússolas" do conhecimento (ou seja, que ajudam o visitante a ao menos se orientar num campo desconhecido). Aliando a literatura à tecnologia, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, já atraiu mais de 1,3 milhão de pessoas. Há também o caso de uma exposição sobre a teoria da evolução de Darwin e outra sobre genética vistas por 500 000 pessoas em várias capitais desde o ano passado. Como ambas, Einstein é fruto de uma parceria entre uma entidade brasileira, o Instituto Sangari, e o Museu Americano de História Natural, em Nova York – instituição que se destaca mundialmente nesse tipo de mostra.
Lailson Santos |
AULA PRÁTICA Sangari, que trouxe Einstein ao Brasil: levar ciência às crianças é uma fixação |
Ninguém sai de Einstein versado na teoria da relatividade, é claro. Mas a exposição cumpre um papel relevante ao instigar a curiosidade – e também por ilustrar conceitos complicados por meio de experiências simples. Quando alguém chama o LHC, o recém-inaugurado acelerador de partículas europeu, de "máquina de brincar de Deus", está apenas tornando as coisas mais difíceis – pois referir-se a uma idéia abstrata por meio de outra só prejudica a compreensão. Por outro lado, recorrer a coisas palpáveis para descrever os fenômenos da física pode até implicar reducionismo – mas ainda é a melhor maneira de fazer com que as pessoas captem essas idéias. Einstein definiu a gravidade como o efeito de deformação que os corpos produzem no espaço-tempo? Bem, pode-se traduzir isso com a imagem do afundamento provocado por uma bola na superfície de uma cama elástica. A exposição em cartaz no edifício da Prodam, no Parque do Ibirapuera, vale-se de muitos expedientes assim. Embora as atrações interativas e a parte devotada à viagem de Einstein ao Brasil nos anos 20 sejam de autoria dos produtores daqui, seu roteiro básico é o mesmo que levou 2 milhões de pessoas a museus europeus e de diversas cidades americanas.
Por trás da exposição está um empresário com a fixação por fazer do ensino de ciências uma prioridade nas escolas brasileiras. Inglês de origem iraniana radicado no país há onze anos, Ben Sangari, de 47 anos, é herdeiro de um grupo internacional especializado na venda de equipamentos para laboratórios. Numa viagem ao Brasil, nos anos 90, vislumbrou uma bela oportunidade de mercado. Sua empresa, a Sangari, fornece kits para aulas de ciências e suporte aos professores da disciplina em escolas públicas e particulares. "O progresso é decorrência do avanço científico de um país. E isso começa pelo investimento nas crianças", diz Sangari. As exposições são o outro braço de sua estratégia de divulgação do tema. Físico formado pelo King’s College, de Londres, Sangari pretende um dia construir um museu nacional devotado à ciência e tecnologia. "O Brasil é o único país entre todas as grandes economias que ainda não dispõe de uma instituição de porte nessa área", diz.