Política
Villas-Bôas Corrêa A candidata oficial puxa a fila
JORNAL DO BRASIL
A queda de quatro pontos nas últimas pesquisas e a euforia com o fim do tratamento do câncer linfático, carimbado com os 90% pela equipe médica, cutucaram o temperamento de lutadora, sem papas na língua, da candidata oficial, a ministra Dilma Rousseff, lançada pelo presidente Lula e engolida pelo PT com arranhões no gogó que se lançou ao tudo ou nada, na arrancada que contorna os prazos legais no anunciado esquema da segunda fase da pré-campanha.
Com a docilidade de quem obedece a quem manda, o enquadrado comando do Partido dos Trabalhadores trocou a água salobra pelo vinho e passou a defender a conveniência da antecipação da saída do governo da candidata Dilma, em meados de fevereiro, para dedicação em tempo integral às visitas aos estados, comparecendo e discursando nos comícios apelidados de reuniões. Nada de muito diferente do que vem fazendo, a desculpa de acompanhar as obras nas diversas frentes, agora inflada com a escolha do Rio para sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
O prazo legal para as campanhas no início de abril já foi antecipado, e nada impede que o truque continue a ser aplicado. O roteiro acompanhará as frentes de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa Minha Vida para a construção de 1 milhão de residências populares em todos os municípios e capitais, a transposição das águas do Rio São Francisco para a irrigação das áreas secas do Nordeste.
É comovedora a adesão maciça do PT, sem uma voz discordante, ao esquema de campanha da ministra-candidata. O presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), com medo de chegar atrasado, comunicou aos repórteres que Dilma deixará o governo em fevereiro, 40 dias antes do prazo final para a desincompatibilização, para se dedicar à campanha, após o lançamento oficial da sua candidatura, no último dia do 4º Congresso Nacional do PT, em 21 de fevereiro.
O que o presidente do PT anuncia como novidade é exatamente o que a ministra Dilma já vem fazendo por conta própria, desde que os médicos que a trataram do linfoma anunciaram a cura. A peruca é uma das marcas da retomada da campanha. Com gana e urgência. Nos jantares com a bancada do PMDB e depois com a do PDT, as alianças foram celebradas com o tilintar das taças de champanhe. Os peemedebistas foram atendidos na reivindicação da Vice-Presidência, previamente acertada em muitos meses de articulação. E o candidato, como se sabe desde sempre, é o presidente da Câmara e do partido, o elegante e melífluo deputado Michel Temer (SP).
A única veneranda novidade é a oficialização do sabido. Com o ajuste às mudanças no cenário. A explosão de orgulho nacional com a escolha do Rio para sede da Olimpíada-2016, daqui a sete anos, vai ser um tema dominante na campanha de 2014 e não tem gás para a de 2018.
Dilma está fechando acertos para 2010. E aproveitando as hesitações da oposição, com outro tipo de embaraço. O candidato amplamente favorito para puxar a oposição, o governador paulista José Serra (PSDB), não deixará o cargo antes do prazo para a desincompatibilização. E até lá o presidente Lula tem muitos abacaxis para descascar. A gastança sem medida do governo, acelerada na pré-campanha eleitoral, cobra as contas que atazanam o ministro da Fazenda, Guido Mantega. E no corre-corre para garantir o quinhão no rateio do cofre da viúva não há limites à ganância. Os presidentes dos tribunais superiores, depois de garantirem o aumento de 9% em seus vencimentos, decidiram propor ao Congresso o aumento de 80% para os servidores do Judiciário. A proposta terá de ser aprovada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) antes de ser encaminhada ao Congresso.
Se aprovada na Câmara e no Senado, o festival terá o seu ponto alto na mudança do cálculo da Gratificação Judiciária (GAJ) para todos os servidores, no salto olímpico de 50% para 135% do salário-base. A classe média está avisada de que pagará a conta da desatinada expansão das contas do governo, apesar da queda na arrecadação, no delírio da campanha oficial para a eleição da ministra Dilma Rousseff.
É imprevisível o que virá por aí em 2010, na reta de chegada da eleição do sucessor ou sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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