"LUV" É O SOM aproximado da pronúncia afetada da palavra "love", em inglês. Em português, assemelha-se um tanto a dizermos "amôôôr". "LUV" é também um novo símbolo para representar o desempenho das economias nessa crise que a torcida financeira diz ter acabado. Cada letra forma um símile que alude aos formatos dos gráficos que descrevem a atividade econômica (o desempenho do PIB).
Um "L" representa uma queda rápida e profunda da economia, seguida de um período longo de estagnação. O "U" descreve uma queda igualmente rápida, seguida de um período de estagnação prolongado, mas com uma recuperação então forte. "V" é uma crise "pá-pum": queda e recuperação rápidas.
Essas metáforas voltaram à tona no início de 2008, com a aproximação do colapso econômico. A sopa de letrinhas logo se tornou citação sarcástica, troça sobre a confusão e a imperícia das previsões dos economistas. Agora, o alfabeto da recessão virou piada de publicitários. Martin Sorrell, o presidente de uma das maiores empresas de publicidade do mundo, a WPP, saiu-se com a crise "LUV" na sexta-feira, motivo de chacrinha na imprensa britânica.
O publicitário diz que a Europa vai seguir o "L"; os EUA, o "U". Brasil, Rússia, Índia e China seguiriam o "V". Mas diz-se que Sorrell apenas deu publicidade a uma invenção de uma repórter da Reuters.
Enfim, a crise vai se desenvolver na forma de um "U"? De um "W"? Ou de um sinal de raiz quadrada de cabeça para baixo? Isto é, um "V" invertido, com a perna à direita mais comprida (nova queda), seguida de um traço comprido de estagnação? A raiz quadrada invertida é da lavra do grande investidor George Soros.
Os americanos saíram do fundo do "V" antecipando consumo, induzidos por subsídios estatais, que vão minguar. Há o risco de um segundo "V", de uma crise em "W". Para os desempregados e americanos mais pobres, a crise tem cara de "L" ("L" também de "logro").
Os bancos americanos devem achar a crise um "LUV", um amôôôr. Vivem a recuperação em "V". Pegam dinheiro a juro zero no curto prazo, cortesia do Fed, e emprestam a médio e longo prazos, a taxas maiores.
Contam com garantias e seguros grátis vários do governo. Beneficiaram-se dos subsídios estatais ao consumo, os quais atenuaram a crise, evitaram desemprego ainda maior e, assim, contiveram uma avalanche de calotes. Os contribuintes americanos pagam a conta da lambança mais corrupta e inepta da história do capital, mas não financiam sozinhos o hospital da banca.
O mar de dinheiro que os americanos despejam no mundo derruba o preço do dólar. A China colou o preço de sua moeda ao preço do dólar. As mercadorias chinesas e americanas ficam mais baratas. Os chineses, assim, mordem mercados na Ásia, na América Latina e na Europa. O conluio sino-americano rouba, assim, empregos do resto do planeta.
O resto do mundo está nesse gancho, a depender de quando o Fed vai interromper a inundação de dólares (elevando juros) e dos humores do comitê de ditadores chineses sobre o que fazer da economia (deixar o yuan subir e crescer para dentro? Exportar ainda e ainda mais?), comitê que faz o que lhe dá na telha.