Política
“Portugal deixou a PIDE colaborar com o apartheid” – declarou recentemente em entrevista o ex-inspector da policia politica fascista Óscar Cardoso.
As declarações de um pide que há-de morrer pide, valem o que valem, mas impõe-se desmascarar algumas velhas “novidades”. O conflito armado entre angolanos pela libertação do país foi um reflexo da conjuntura da guerra fria por um lado, e por outro lado do
confronto ideológico entre os reformistas da URSS e os revolucionários de tendência Maoista. Contudo, não é verdade que a Unita tenha sido só apoiada pela República Popular da China. Após a adopção da
Doutrina Reagan os Estados Unidos deram prioridade à Unita na cedência de meios financeiros; e
não apoiavam o MPLA porque esse movimento de libertação era "comunista" . Depois da batalha do Cuito Cuanavale (
um momento alto do internacionalismo proletário)
que derrotou a possibilidade de se manter o apartheid, os EUA mudam radicalmente de posição; abandonam a Unita e
começam a apoiar o MPLA. Quanto ao colaboracionismo com os racistas sul-africanos, em cada região militar havia uma delegação da PIDE que interrogava os “indígenas” detidos pela tropa colonial (“os turras capturados em combate” na gíria politico militar da época), mas essa era uma actividade secundária - a principal era
a presença de meios militares sul-africanos no terreno, aviões, helicópteros e quadros militares sem insignias a actuar em paralelo com as tropas portuguesas. E mais importante ainda, a África do Sul contribuia com empréstimos financeiros a fundo perdido para que Portugal pudesse servir de tampão à guerrilha da Swapo na Namibia. Quanto ao "pacto" da Unita com Portugal nunca se soube ao certo se existiu... mas só entre 1969 e 1971 os guerrilheiros de Savimbi minaram por 52 vezes colunas militares no Cuando Cubango com destruição de camiões de abastecimento... ora se isto era "colaborar" era uma colaboração violenta... mas, se há alguma coisa de consistente a acreditar no diz o pide, é que a colaboração é
um mito da propaganda disseminada pelo Movimento Popular de Libertação de Angola. Tanto que o ex-pide, uma vez pide, pide para sempre,
vive à sombra do actual regime de Luanda e dá a aqui citada entrevista ao Jornal de Angola, precisamente o órgão oficial do partido no poder. Omitido três factos fulcrais:
1. que
a “libertação” de Agostinho Neto e a subsequente “fuga” de Lisboa nos anos 60 acontece por intercedência dos Estados Unidos que pretendiam garantir alguém à frente da luta pela libertação que lhes garantisse a impunidade das suas companhias petrolíferas então já a explorar as riquezas do território
2. o massacre de dezenas de milhar de pessoas falsamente acusadas de dissidência no
golpe-de-Estado de 27 de Maio de 1977, o genocídio fundador do regime, tolerado e nunca investigado pela “comunidade internacional” (tal como prontamente se exigiu na Jugoslávia, Ruanda, etc) e
3. Que
o corrupto MPLA substituiu os parcos indicios de socialismo da era da guerra civil pela
corrupção generalizada que
mantém a maioria da população na mais negra das misérias e ignorância, apesar de ser um país riquíssimo em recursos naturais.
(entrevista de Óscar Cardoso aqui)
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