As mulheres sem rosto
do homem idem
Martin Margiela, que não dá entrevistas nem
tira fotos, se despede com desfile que foi a cara
da segunda-feira negra: um pavor
Fotos Francois Guillot/AFP e Karl Prouse/Getty Images |
HORA DO ESPANTO |
Quem acompanhou os lances dramáticos durante o Dia do Grande Pavor e procurou relaxar vendo coisas bonitas à noite levou o maior susto com o Desfile dos Zumbis apresentado na temporada de moda em Paris pelo belga Martin Margiela. Aliás, um parecia a continuação do outro. Mestre de todos os esquisitismos, Margiela comemorou os vinte anos de sua grife colocando na passarela modelos com o rosto coberto por malha cor da pele ou longas perucas que se transformavam em mangas de casaco. Algo como a mulher-macaco dos circos mambembes, só que pior. Críticos de moda, que gostam de uma iconoclastia ou têm de parecer antenados com todos os vanguardismos, aplaudiram. Quando surgiu no mundo da moda como um dos belgas do barulho, Margiela injetou uma salutar dose de transgressão. Tornou-se um dos luminares do desconstrucionismo – casacos vestidos de trás para a frente, costuras do lado de fora, proporções exageradas. As roupas de passarela eram absurdas no ponto certo para espantar a burguesia, mas as que iam para as lojas tinham um ar de modernidade desejado por um nicho do mercado. Ter uma camisa Margiela praticamente resolvia um guarda-roupa descolado. Uma coisa deve ser reconhecida: o costureiro se manteve fiel a um estilo que já foi comparado ao das roupas usadas no antigo bloco soviético. No meio dos anos 90, resolveu desconstruir a si mesmo. Desde então, não dá entrevistas e não se deixa fotografar. Em 2002, a grife foi vendida ao Diesel Group. Agora, parece que o próprio Margiela vai sair. O desfile da segunda-feira negra foi considerado uma despedida. Adeus.