A pequena política Merval Pereira
Política

A pequena política Merval Pereira



 O GLOBO

NOVA YORK. O inesperado problema enfrentado por Timothy Geithner para sua aprovação no Congresso como secretário do Tesouro e a resistência bipartidária à liberação da segunda parcela do pacote de U$350 bilhões já aprovado são exemplos das dificuldades políticas que o futuro presidente, Barack Obama, encontrará quando assumir a Casa Branca, dificuldades que o sentimento de fazer história com sua eleição não evitará, mesmo que o clima de festa volte a dominar o país dentro de poucos dias, no que será a maior e mais cara cerimônia de posse de um presidente nos últimos anos.

A tentativa de fazer um governo de apoio suprapartidário chega ao cúmulo de Obama ter se reunido para jantar na noite de terça-feira com um grupo de jornalistas conservadores de várias publicações, e ontem pela manhã ter se reunido com outro grupo, dessa vez de jornalistas liberais.

A obsessão pelo governo de união nacional pode criar embaraços para políticas oposicionistas sem fundamentos, mas não está impedindo que a pequena política de Washington esteja sendo exercida em sua plenitude, aquela mesma política que Obama prometeu mudar ao ser eleito.

E a pequena política começa pelo seu próprio partido que, mesmo tendo uma grande vantagem numérica sobre os republicanos, não quer abrir mão de qualquer naco do poder e tem se esmerado em enviar recados ao futuro ocupante da Casa Branca.

O fato de a Comissão de Finanças do Senado não ter conseguido, graças à atuação dos senadores republicanos, marcar a audiência de Timothy Geithner para antes da posse de Obama é apenas uma pequena demonstração de força que a minoria está dando, pois não há indícios de que a nomeação do futuro secretário de Tesouro esteja ameaçada.

O próprio Geithner está tendo que telefonar pessoalmente para cada um dos senadores explicando seu engano na declaração de imposto de renda, de todo modo já sanado com o pagamento do devido, acrescido de multas.

Enquanto luta pela sua aprovação, Geithner vai permitindo que um companheiro de equipe econômica conhecido por ser espaçoso ocupe o lugar de destaque nas discussões da futura política econômica.

O ex-secretário de Tesouro Larry Summers, nomeado para chefiar o Conselho Nacional de Economia justamente para não ter que se submeter a uma sabatina no Senado, hoje é o porta-voz da equipe econômica, e, enquanto ele discute com as lideranças políticas e empresariais o futuro pacote de recuperação da economia, Geithner discute seus problemas pessoais.

Temia-se que os problemas que Summers teve quando presidente da Universidade Harvard, de onde teve que sair depois de ter provocado uma polêmica com grupos feministas e o corpo de professores ao afirmar em uma palestra que as mulheres têm menos capacitação para o ensino de ciências exatas, como a matemática, pudessem atrapalhar sua aprovação no Senado, e o Conselho Nacional de Economia foi um lugar proeminente o suficiente para abrigá-lo sem exigir negociações políticas.

Além do fato de que a situação econômica parece a cada dia pior, sem uma previsão de quando se chegará ao fundo do poço, já se discute como será o mandato de Barack Obama com a expectativa de que os resultados da economia não serão melhores nos próximos dois ou três anos.

A folgada maioria que os democratas hoje têm no Congresso, fruto do desgaste do governo Bush e da simbologia da candidatura de Obama, poderá ser revertida na eleição dentro de dois anos.

Bill Schneider, analista da CNN, fez uma interessante análise sobre como presidentes que assumiram o cargo com o país em crise reagiram às dificuldades. Quando Ronald Reagan e Bill Clinton chegaram ao poder, o desemprego estava na faixa de 7%, a mesma taxa com que Obama chegará à Casa Branca.

Os primeiros dois anos foram difíceis, o desemprego aumentou, e em consequência o Partido Republicano perdeu 26 cadeiras na Câmara, mas manteve a mesma representação no Senado. No final de seu primeiro mandato, o desemprego voltara à mesma situação da posse, mas a inflação foi controlada, e Reagan conseguiu se reeleger facilmente.

Já Bill Clinton conseguiu reduzir o desemprego nos primeiro dois anos de seu mandato, mas mesmo assim os Democratas perderam a maioria no Congresso nas eleições de meio de mandato, por conta de outros problemas internos, como planos de saúde e impostos.

Mas a economia acabou melhorando bem no final de seu primeiro mandato e ele conseguiu se reeleger. A conclusão é que a economia tem uma parcela ponderável na aprovação presidencial, mas as eleições parlamentares são travadas dentro de outros parâmetros que podem mudar o controle do Congresso.

A eleição de um candidato democrata sempre pareceu uma consequência natural da falência do governo Bush, mas uma crise como a atual, sem precedentes desde a Grande Depressão, ajudou a consolidar a posição de Barack Obama.

Se, ao contrário do anseio generalizado, o novo governo não conseguir, como tudo indica, normalizar a economia nos primeiros anos de seu primeiro mandato, a frustração quase certamente afetará o Partido Democrata nas eleições de 2010, mesmo que mais adiante Obama consiga se recuperar.

É por isso que os políticos estão jogando duro nesse início de legislatura, democratas tentando evitar erros do futuro governo que coloquem em risco seu poder, enquanto republicanos farejam a retomada do poder dentro de dois anos.



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