Política
Ouvidos de Obama O GLOBO EDITORIAL,
O presidente eleito dos Estados Unidos está naquela situação em que um anjo lhe sopra num ouvido que o tamanho de sua vitória e sua força política são capital suficiente para as enormes batalhas que tem pela frente, na economia e nas políticas interna e externa.
Enquanto um diabinho captura o outro ouvido para aconselhar: pense pequeno, empurre com a barriga, finja-se de morto, pois não vai dar mesmo para cumprir aquelas maravilhosas promessas de campanha.
Analistas traçam um paralelo entre a situação de Obama e a de Ronald Reagan, que há quase 30 anos também herdou uma economia em recessão — menos grave que a atual, é verdade, mas com a inflação teimosamente em alta. E lembram que o que Reagan fez foi se concentrar nos problemas de longo prazo, aceitando a dor a curto prazo como inevitável e o risco da erosão de sua popularidade.
Um dos pontos de contato entre as duas épocas é Paul Volcker, nomeado para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pelo presidente Carter, e com um papel crucial no governo Reagan ao debelar a inflação por uma forte elevação dos juros. Volcker é hoje um dos principais conselheiros de Obama.
Reagan pagou um preço pelo remédio amargo — os republicanos perderam as eleições de meio de mandato em 1982 —, mas a recuperação econômica que se seguiu levouo a um segundo mandato em 1984, com grande apoio popular.
O anjinho segreda a Obama que há algum espaço para estimular a economia, enquanto trata das questões de fundo. O presidente eleito conta com um respaldo formidável no Congresso. Os democratas têm hoje maiorias mais amplas nas duas casas do que jamais tiveram os republicanos na era que ora é encerrada.
Obama há de dar ouvidos ao anjo, sem descuidar de duas datas cruciais: 2009, quando expira a legislação que permitiu a Bush cortar os impostos dos mais ricos, e ocasião propícia para o presidente eleito pôr em prática sua política de desonerar a classe média; e 2011, quando as eleições de meio de mandato testam a popularidade do chefe do Executivo. Se errar na mão para tratar da economia doente, Obama se arriscará a perder apoio popular e o respaldo de que dispõe hoje no Congresso.
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