O primeiro banco emissor em nome de um Estado soberano foi o Banco de Inglaterra fundado em 1694 em plena Revolução Gloriosa, quando o Estado foi refundado em nome do poder da burguesia representada no Parlamento pelo holandês Willem Hendrik, Principe da Casa de Oranje-Nassau, coroado rei de Inglaterra como Guilherme III (pelo casamento com Mary Stuart). Exausta pela Guerra dos Nove Anos (1) contra a França de Louis XIV a Coroa inglesa não tinha meios financeiros para continuar a sustentar um exército de 30 mil homens na frente continental europeia.
Então, um certo número de capitalistas reuniu uma soma de um milhão e duzentas mil libras que foi entregue na totalidade como empréstimo ao Rei com um juro de cem mil libras anuais, um pouco menos de 10% contra os empréstimos dos bancos particulares, cambistas e usurários que na época chegavam a exigir juros de 50%. O empréstimo de 1694 ao Estado foi o acto de invenção do “National Debt” (Dívida Pública). Como o Banco de Inglaterra não possuía outras reservas, pois todo o capital fora emprestado ao Governo, o grupo de capitalistas fundadores recebeu em troca o privilégio de emitir bilhetes de papel no montante do capital emprestado. Esses bilhetes (notas), funcionando como títulos do Tesouro seriam reembolsáveis em ouro. A rendição e o armistício com os franceses em 1697 teve como resultado a consolidação dos laços que uniam a Casa Orange-Nassau de Guilherme III e o Banco de Amesterdão. Ao principio os bilhetes do Banco de Inglaterra não tinham oferecido grande confiança (2), mas, após os lucros obtidos com a vitória e a consolidação trazida com o primeiro reembolso a que se vinham juntar as cem mil libras de juros recebidas todos os anos, o público em geral aderiu aos empréstimos do Banco. Esta é a génese fundacional da praça financeira da City de Londres. O Banco de Inglaterra, especialmente fundado para esta operação, pode ser considerado igualmente a primeira parceria Público-Privada (3)
(1) Este conflito opôs a França contra a Liga de Augsburgo, ficando conhecido em 1689, com a entrada da Inglaterra, com o nome de Guerra da Grande Aliança. O conflito terminou com a assinatura do Tratado assinado em 20 de Setembro de 1697 na cidade holandesa de Rijswijk (wikipedia).
(3) Os 13 anos de governo de Guilherme de Orange representaram um verdadeiro salto de qualidade para o mundo financeiro da Inglaterra que se fundiu praticamente com as finanças holandesas dando um renovado impulso à Companhia Inglesa das Índias Orientais, e reorganizando completamente o sistema de administração da dívida publica do governo inglês, através da criação do Banco da Inglaterra, em 1694. Foi Oliver Cromwell quem tinha dado forma e força ao mercantilismo inglês, ao decretar o “1º Acto da Navegação”, em 1651, que fechou os portos e monopolizou o comércio, na mão dos navegadores ingleses. Dando início a uma política mercantilista que se manteve vigente na Inglaterra durante os dois séculos seguintes, até pelo menos a abolição das Corn Laws, que protegiam a agricultura da ilha, em 1846. Ao lado do mercantilismo, Cromwell também oficializou a política de expansão colonial da Inglaterra, assumindo imediatamente a sua liderança. Primeiro, atacou e submeteu a Irlanda e a Escócia, e logo em seguida começou as guerras com a Espanha e com a Holanda, pelo controle do Mar do Norte e do Caribe. E foi na guerra com a Espanha que a Inglaterra de Cromwell conquistou sua primeira colónia de povoamento, a Jamaica, em 1655. A partir de então, a Inglaterra fez aproximadamente 90 guerras e nunca mais interrompeu a expansão do seu território económico e colonial, até ao século XX, quando o Império Britânico alcançou a sua máxima extensão, depois da 1º Guerra Mundial