a radicalização do neoliberalismo
Política

a radicalização do neoliberalismo


Paul Gauguin, "A Visão Após o Sermão", 1888

A estória que o colunista liberal escreve sobre o Cão (por um passe de mágica transfigura-se num Coelho) que depois de comprado pelo novo dono deixa de ladrar, é uma curiosa parábola sobre o súbito "mandar às urtigas" dos programas eleitorais com que PS e PSD se apresentaram ao recente simulacro de sufrágio – a entrada do FMI na concertação económica da União Europeia e as imposições (1) a que obriga os directórios nacionais, ultrapassando-os (2) – é um claro sinal que a chamada “democracia” no Ocidente está morta e enterrada no sarcófago do totalitarismo de Bloco Central, um caixão esborratado com os grafittis da liberdade bem à medida do modelo imperial-americano.

(3) Mais adequada seria portanto a parábola de Brecht no “Mendigo ou o Cão Morto” quando o Imperador se anuncia no auge dos festejos da vitória e depara à sua porta com o mendigo, pálido, de roupas esfarrapadas, fedendo a miséria. Diz-lhe altivo e magnânimo o Imperador: “Homem, você sabe por que os sinos dobram?” – Sim, responde-lhe o mendigo, “o meu cão morreu”. Claro que a estória do mendigo simbolicamente representa um improvável diálogo da verdade do Povo contra a verdade dos poderosos, mas quem morreu nesta cena não foi um qualquer Passos Coelho tirado da cartola capitalista, mas a possibilidade concreta de se apresentar hoje alternativas que não sejam inseridas e concordantes com a radicalização à extrema direita do modelo económico financeiro neoliberal (4)

(1) Na Grécia, supressão de dois meses de salário na função pública, continuação da venda de parimónio pelas anunciadas privatizações (grande fortunas se continuarão a acumular); na Roménia: 25% de cortes de salários nos trabalhadores da função pública e de 15% nas pensões dos Reformados. Aumento de impostos e inflação generalizada; especulação sobre o custo de vida em toda a zona Euro.
(2) Estados perdem soberania dos seus próprios orçamentos
(3) Um marco histórico: "A Europa (e o FMI) vão dar 750 mil milhões aos paises em dificuldades, mas será isso a salvação?"
(4) "A Europa dá um salto de gigante a caminho de um governo económico comum" foi o titulo de primeira página e tema do editorial do El País



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