Ninguém lá fora sentiu o anunciado impacto negativo e desastroso do IOF sobre investimentos externos. Nem lá nem aqui. "Os investidores avaliaram melhor a medida e aparentemente chegaram à conclusão de que não é tão nociva", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. A coluna vê que há receio de maior intervenção do governo, mas parece estar afastado pela seriedade com que vem sendo conduzida a política econômica. O cambio flutuante veio para ficar.
Isso se confirma com a declaração do ministro da Fazenda de que o governo está aberto para debater o assunto. Guido Mantega é convincente ao dizer que a medida visa a equilibrar a entrada de capitais estrangeiros e evitar excessos, "de modo a não causar uma bolha e a supervalorização do real."
Só que pelo menos até ontem não havia conseguido, lembra Agostini. Os investidores não só não saíram, como continuam entrando também na bolsa. O Índice Bovespa, só neste ano, valorizou-se, até ontem, 79,3% em real e 140% em dólar!
Se isso não é "exuberância irracional", não sei o que é. O que preocupa não é a valorização em si, mas sua causa. Estima-se - não há levantamento atual - que grande parte do investimento em bolsa é feito com empréstimos. Mas até onde isso pode se sustentar? Já vimos antes, aqui e nos EUA.
FT VÊ MATURIDADE
O Financial Times, de Londres, analisou ontem a decisão do governo de taxar investimentos externos. "Essa medida preventiva é sinal promissor de amadurecimento financeiro do Brasil", disse.
O Brasil, diz o jornal, é vitima do seu sucesso. O real se valorizou 23% este ano e 62% desde 2002. Mas está um pouco cético sobre se vai ajudar muito. "A melhor resposta para os efeitos negativos do câmbio valorizado sobre as exportações é aumentar a produtividade."
E VIVA O MERCADO!
No primeiro dia, houve natural nervosismo no mercado. Mas foi um nervosismo passageiro, que acabou em um dia. Na terça-feira, a bolsa chegou a cair 4,64%, mas fechou em queda de 2,88%. E ontem, acabou em alta de 2,4%. Recuperou tudo o que havia perdido. Não houve tragédia. Nenhuma. O valor de mercado das empresas caiu drasticamente terça-feira, mas se recuperou ontem.
NÃO É TÃO NOCIVO ASSIM
Alex Agostini, da Austin Rating, que é também professor de economia, faz um balanço destes dois dias para a coluna e mostra algumas preocupações.
"No segundo dia após entrar em vigor a tributação do IOF nas operações com câmbio no mercado financeiro (bolsa de valores e renda fixa), os investidores avaliaram melhor as medidas e, aparentemente, entenderam que ela não é tão nociva para a boa rentabilidade que os ativos financeiros do Brasil oferecem em relação às alternativas mundo afora e resolveram injetar novo ânimo positivo. A bolsa de valores, por exemplo, fechou a terça-feira em queda de 2,88% e nessa quarta-feira anotava alta de 2,4%, recuperando quase tudo que caiu.""
A taxa de câmbio, por sua vez, encerrou a terça-feira cotada em R$ 1,745 por dólar, em alta de 1,87%, mas já retornou à sua trajetória de valorização, sendo cotada nessa quarta-feira por R$ 1,723.
BOLSA, 140% EM DÓLAR!
Os investidores contabilizavam ganhos de 132,9% na bolsa de valores cotada em dólar e de 73,9% em reais, no acumulado do ano até o fechamento de ontem dia 20.
" Com a recuperação dos mercados nessa quarta-feira, os ganhos subiram para aproximadamente 140%. Isso é pouco mais de 7% em apenas um dia, considerando os ganhos proporcionados pela valorização do real e da própria bolsa de valores", diz Agostini.
ELES CONTINUAM VINDO
Para o economista-chefe da Austin Rating, apesar de o governo, por meio do Ministério da Fazenda, alegar que a medida de tributar o IOF em 2% nas operações com câmbio no mercado financeiro para "inibir a formação de bolhas especulativas", não houve jeito.
"Os investidores creem que os fundamentos da economia brasileira apresentados, por exemplo, com o surpreendente resultado do PIB no segundo trimestre, com alta de 1,9% - enquanto a maioria das demais economias ainda amarga retração -, se sobressaem à medida adotada pelo governo e, portanto, creem que ainda há um bom terreno para ser explorado no Brasil (e ganhar dinheiro) antes da ocorrência de qualquer ajuste de correção nos ativos financeiros mais significativos (leia-se quedas mais recorrentes e acentuadas que a observada na terça-feira )."
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