O correspondente à Obamania - que veio implementar a alienação das classes populares no Ocidente – é o desprezo pela Revolução das elites intelectuais da esquerda burguesa, indivíduos avulso convencidos de que só eles são dotados de inteligência. Para estes o novo ídolo é Alain Badiou, que se reclama do Comunismo, “essa velha palavra magnifica”, para cujas condições de concretização objectiva, o novo filósofo-coqueluche reclama uma verdadeira igualdade entre indivíduos, numa ruptura radical com o consenso democrático. Palavras.
Evelyne Pieiller (no LeMondeDiplomatique, edição Janeiro 2011, pag. 19) encarrega-se de desmontar a nova mitologia Badiou que “tem como programa politico a definição auto-gestionária do Possível”, isto é, integrada no actual sistema que “liga o capitalismo à democracia representativa, ou seja, o “possível” encerrado dentro da propriedade privada. Para Alain Badiou os apelos à moralização do sistema já não bastam, a falsa escolha oferecida tanto pelo Liberalismo como pelo Reformismo é ilusória, porque radica na estupidez do número, ou seja, na escolha obrigatória da lei da maioria que não admite inimigos que tentem alterar as regras do jogo para lá da mundovisão da classe dominante (que nega a existência da luta de classes). Alain Badiou também não. Diz ele que devemos usar a filosofia – ao filósofo compete guiar o politico, não atendendo à diferença do modo de produção social da antiga Grécia, quando Platão o sugeriu (1) – para provocar “acontecimentos” que de “repente façam aparecer uma possibilidade de mudança radical que era invisível ao mesmo impensável”. De onde vem a capacidade para cada um sair da caverna do seu ego (numa sociedade constitucionalmente individualista sufragada universalmente pelo sufrágio de egos) para nos desprendermos de repente do erro e saudar a verdade?
Quanto ao iluminismo badiouano, se não é uma abstracção, trata-se de uma conversão, ao estilo de uma revolução religiosa (2), um paradigma confessional ao qual Badiou dá o nome de “hipótese comunista (3), ou o outro nome do Amor”, “essa experiência pessoal da universalidade possível” (4). Amar toda a gente ama, desde o burguês ao imigrante sem papéis. Não é portanto a classe trabalhadora (operária) como entidade transformadora que lhe interessa… mas sim a sua integração numa aristocracia de iluminados (mais uma vez Platão, no longínquo dia em que todos serão filósofos). Diz Badiou: “o comunismo deverá, para existir, dotar-se dos meios necessários para controlar o domínio da identidade” – ora, não é disso mesmo que trata a informática do ministério da segurança interna? Trata-se apenas de mudar o ministro por um outro que se diga comunista?
Evelyne Pieiller termina a recensão crítica arrasando a nova “aristocracia de iluminados”, assim: “No imediato este “comunismo” quase não perturba a ordem estabelecida. Os ataques contra um sufrágio universal “populista” só podem satisfazer os adeptos da “boa governação”, que raramente são revolucionários; a rejeição de qualquer acção no quadro de um partido ou de um sindicato só pode agradar aos defensores do sistema. Mas, sobretudo, a afirmação espiritualista de uma revelação da verdade absoluta parece já não oferecer senão um comunismo desembaraçado do Marxismo, tão retirado do contexto histórico como engalanado com o charme politico das utopias inofensivas”