Cadeados para o Tesouro Rolf Kuntz
Política

Cadeados para o Tesouro Rolf Kuntz



O Estado de S. Paulo - 14/12/2011
 

JORNALISTA
Desviar dinheiro do Tesouro para amigos, parentes, companheiros de partido e laranjas vinculados a ONGs malandras ficará um pouco mais difícil, com a entrada em vigor do Decreto n.º 7.641, assinado na segunda-feira pela presidente Dilma Rousseff e publicado na terça, dia 13. Dirigentes de Ministérios loteados ou aparelhados terão de furar mais um bloqueio institucional, montado pelo Ministério do Planejamento por determinação da presidente Dilma Rousseff. Todas as transferências de recursos por meio de convênios, contratos de repasse ou termos de parceria serão centralizadas no Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Sinconv). Entre 16 de janeiro e 30 de julho do próximo ano, todas as funções de acompanhamento, fiscalização, convocação, cotação de propostas, tomadas de conta e ordens de pagamento serão gradualmente ligadas a esse programa. É impossível dizer se isso dará resultado e por quanto tempo o Tesouro ficará protegido, especialmente se forem mantidos os critérios de nomeação dos últimos nove anos.
O novo decreto representa mais uma tentativa - formal, pelo menos - de regular as transferências de recursos federais por meio de convênios e contratos de repasse. A segurança do sistema - com resultados pífios, como se viu este ano - havia sido legalmente reforçada por meio de cinco decretos publicados entre 2007 e 2011. Cada um foi destinado a fechar uma brecha, mas nem por isso o Tesouro ficou livre de novos assaltos.
O presidente Luiz Inácio da Silva assinou o mais amplo dos decretos, o 6.170, de 2007, base de todos os demais. No ano seguinte, assinou mais três para aperfeiçoar o sistema. O de n.º 6.619, de 2008, proibiu a celebração de convênios e contratos de repasse com entidades privadas sem fins lucrativos dirigidas por "agente político de Poder ou do Ministério Público, dirigente de órgão ou entidade da administração pública de qualquer esfera governamental, ou respectivo cônjuge ou companheiro, bem como parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o segundo grau". A referência a entidades da administração pública "de qualquer esfera governamental" ampliou o alcance da proibição já estabelecida.
Novos dispositivos de segurança foram acrescentados pelo decreto n.º 7.568, de 16 de setembro deste ano, depois de comprovada mais uma porção de vezes a vulnerabilidade do sistema. As proteções estabelecidas pelo governo anterior haviam sido insuficientes para impedir o repasse de dinheiro a ONGs de fachada e a entidades dirigidas por parentes e também por pessoas vinculadas à administração pública.
Com o decreto de setembro, a presidente Dilma Rousseff tentou tornar mais severas as condições de repasse, proibindo acordos com entidades omissas na prestação de contas, culpadas de danos ao Tesouro ou incapazes de provar a realização, nos três anos anteriores, de atividades ligadas ao objeto do contrato ou convênio.
Todas essas proibições podem parecer espantosas, porque qualquer agente público honesto e competente já deveria levá-las em conta, implicitamente, como princípios elementares de gestão pública. Mas foi preciso explicitá-las, porque todas haviam sido violadas várias vezes desde o governo anterior. A lista das irregularidades apontadas nos contratos dos Ministérios dos Transportes, do Turismo, do Esporte, da Agricultura e do Trabalho cobre todas essas proibições, com ou sem variantes virtuosísticas. Ninguém deveria surpreender-se. O mesmo presidente, afinal, assinou tanto os decretos quanto as nomeações dos ministros afastados, neste ano, depois de indisfarçáveis assaltos ao Tesouro.
A proposta de orçamento de 2012 pode estar contaminada pela herança desses ministros. O relator para a área de Trabalho, Previdência e Assistência Social, deputado Efraim Filho (DEM-PB), pediu ao Tribunal de Contas da União, segundo noticiou o Valor, informações sobre auditorias de convênios do Ministério do Trabalho. A proposta orçamentária inclui, por exemplo, R$ 1,6 bilhão para o "seguro defeso", destinado a pescadores artesanais durante a reprodução de certas espécies. Essas despesas cresceram 644,2% entre 2004 e 2010, graças ao milagre da multiplicação dos pescadores. O valor previsto para o próximo ano é 27,7% maior que o autorizado para 2011. Também constam do projeto pagamentos de R$ 144,9 milhões para entidades privadas. É uma verba menor que a do ano passado, mas nem por isso se deve relaxar a vigilância.
A reforma ministerial de janeiro dará uma ideia da eficácia do novo decreto. Se os critérios do governo anterior prevalecerem, o Diário Oficial terá publicado mais um texto de ficção legal e administrativa.



loading...

- A Seleção Dos Piores
23 de novembro de 2011 | 14h59Rolf Kuntz Tirem do governo os malandros e haverá menos interesse em criar ONGs para sugar dinheiro público. Limitem os convênios ministeriais e proíbam as emendinhas ao Orçamento. Com isso, uma porção de brechas...

- Lupi, O Republicano Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo - 09/11/11 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, contra a Comissão de Ética Pública, em dezembro de 2007, e o manteve no posto elogiando seu "comportamento republicano". Passados quatro...

- Dilma, A Gerente Omissa-estadao- Rolf Kuntz
 O Estado de S.Paulo  19 de outubro de 2011 Tão assustadora quanto a bandalheira no Ministério do Esporte é a demora da presidente Dilma Rousseff em pegar a vassoura, mais uma vez, para avançar na limpeza da administração. Se quisesse,...

- Pragas Da Política Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo - 17/08/2011 A nova e generosa safra de escândalos em Brasília chama a atenção, mais uma vez, para três das piores pragas da política brasileira: a ocupação partidária da máquina pública, a transformação do Orçamento...

- O Valor Da Une -editorial O Estado De S.paulo
Depois de ter sido aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o projeto que autoriza a União a doar até R$ 30 milhões para a construção da nova sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) agora só depende da Comissão de Constituição...



Política








.