Conservadoras, muito prazer
A transgressora Carla Bruni e a certinha Sarah Palin
se unem no apelo dissimulado do tailleur. Quem foi
que disse que a roupa não faz a mulher?
Julien Hekimian/Wire Image/Getty Images | Jim Wilson/NYT |
A PERFEIÇÃO DE CARLA | A ATRAÇÃO DE SARAH |
Um tailleur é um tailleur é um tailleur – à primeira vista, o célebre conjunto de saia e casaquinho do mesmo tecido é o traje mais seguro (traduzindo: sem graça) que a mulher pode usar quando quer passar a impressão de seriedade, profissionalismo e bom comportamento. A impressão, no entanto, é tão falsa quanto as pérolas de Coco Chanel, a estilista francesa que é considerada a mãe de todos os tailleurs. Se usada com atitude, a roupa pode atear fogo à imaginação. Quem duvida que observe a primeira-dama da França, Carla Bruni Sarkozy, 40 anos, cantora, ex-modelo, ex-transgressora, posando com o jeitinho mais recatado do mundo na recepção oficial ao papa Bento XVI em Paris há duas semanas. Só um santo mesmo para não pensar – com uma boa ajuda daquelas fotos que ela tirava antes do casamento – no que se agitava sob o tailleur de lã cinza Christian Dior (quem se arriscar a duplicar a produção pode passar na loja Dior de São Paulo, onde um conjunto igualzinho está à venda por 5 790 reais). Na outra ponta da gangorra, atente-se para Sarah Palin, 44, governadora do Alasca e candidata a vice do republicano John McCain, sempre de tailleur escuro porém justinho, as pernas bem torneadas provocantemente sem meias, os sapatos vermelhos (todo mundo comentou os sapatos vermelhos com os dedinhos de fora) e a imagem menos esperada em uma política conservadora dos cafundós do Alasca: a de mulher sexy.
Inventado no fim do século XIX, quando as mulheres começaram a freqüentar ambientes masculinos e precisaram de uma vestimenta similar aos ternos, o tailleur virou uniforme das mulheres finas que trabalham em especial depois da II Guerra Mundial, através dos modelos de Christian Dior hoje brilhantemente revisitados pelo estilista da grife, John Galliano. Por maiores que sejam as reviravoltas da moda, não há jeito de eliminá-lo do guarda-roupa. "Ele é democrático, porque dá rigor e pode ser usado por qualquer mulher. Escolhe-se um tailleur pela ocasião, não pela pessoa", diz Patrícia Sant’Anna, professora de história da moda da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo. Carla Bruni é o exemplo perfeito: em ocasiões oficiais em que acompanha o marido presidente, Nicolas Sarkozy, parece até uma paródia, deslumbrante, do bom comportamento. Usa sempre cinza ou preto, fala pouco e sorri docemente. Como tem gosto impecável (Dior, Dior e Dior; com algum Hermès), dinheiro próprio e porte de modelo, está sempre linda – até sem salto, deferência ao marido 8 centímetros mais baixo que ela de sapatilhas. Muito menos sofisticada, mas com imagem hoje igualmente global, é Sarah Palin, a mulher que entrou para a política pelo caminho mais conservador e não quer de jeito nenhum ser notada pela beleza (mas, se notam, que se há de fazer?). Cinco filhos, um neto a caminho, ela usa franja e cabelo desfiado no alto da cabeça, num coque à moda antiga, porque é fácil de pentear, a deixa mais alta (mede 1,65 metro) e "ameniza o visual sexy", segundo sua cabeleireira, Jessica Steele. "Nas nossas conversas, sempre achamos que, se for considerada bonita demais ou sexy demais, as pessoas não vão prestar atenção no que tem a dizer", teoriza Jessica, que em Wasilla, a cidade de 7 000 habitantes onde Sarah fez carreira, é dona do salão Beehive, que em inglês quer dizer colméia e é justamente o nome dado a penteados armados. Imagem quase idealizada da americana do interior, Sarah usa óculos – encomendas da armação Kazuo Kawasaki, entre 700 e 1 300 reais, duplicaram desde seu advento –, fala com sotaque arrastado e faz o tipo despachada. O apelo erótico é ostensivamente confinado aos sapatos de salto bem alto. A marca preferida é Franco Sarto, mas o famoso par vermelho é da Naughty Monkey. Macaquinho sapeca. Já imaginaram?