Lailson Santos |
VOLTA APRESSADA Pastor Tid: o estado de saúde antecipou o retorno ao Brasil de Estevam e Sonia |
Procedimento médico relativamente novo, a cirurgia bariátrica, que reduz as dimensões do estômago de maneira radical e leva o paciente a comer muitíssimo menos, começou como último recurso de obesos em situação de alto risco e se transformou em intervenção mais corriqueira. No mundo dos famosos, seu mais recente adepto foi o apresentador Fausto Silva, 59 anos, que no domingo passado informou ao público ter passado por uma operação de "interposição ileal", versão da redução de estômago que tem por objetivo principal controlar o diabetes. Mas por características específicas do procedimento, e por mexer num mecanismo complexo como o da fome e da saciedade, a cirurgia bariátrica continua a ser uma operação perigosa. Seu índice de letalidade é de 2%, igual ao das cirurgias para colocação de ponte de safena. As complicações pós-operatórias batem em 10%. As mais comuns são rupturas e infecções provocadas pelo exagero no consumo de alimentos. Outras ainda podem aparecer muitos anos depois de feita a cirurgia, como no caso de Felippe Daniel Hernandes, 30 anos, internado há um mês no Hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo. Por causa da gravidade de seu estado, os pais dele, Sonia e Estevam Hernandes, líderes da Igreja Renascer, conseguiram autorização dos Estados Unidos, onde cumpriam pena, para antecipar a volta ao Brasil em quinze dias.
Há oito anos, pesando 150 quilos, Felippe, conhecido como o pastor Tid da Renascer, que já havia recebido um duplo transplante de rins, fez a cirurgia bariátrica. Emagreceu mais de 40 quilos. Voltou a engordar um pouco, mas passava bem até que, meses atrás, começou a ter fortes dores abdominais. Detectou-se uma aderência intestinal, bastante comum em pessoas que reduziram o estômago. Em 9 de julho último, foi operado para remover o pedaço de intestino obstruído. Horas depois, uma das suturas se rompeu, causando hemorragia interna e uma infecção forte o bastante para provocar edema cerebral. Para preservar o cérebro de maiores danos, encontra-se em coma induzido desde o dia 31. Seu estado é considerado muito grave. "Esse tipo de obstrução independe do paciente. Ele pode seguir a dieta direitinho e muitos anos depois da operação desenvolver a aderência", diz Sidney Klajner, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Albert Einstein.
Além das aderências, facilitadas pela intensa movimentação dos órgãos envolvidos nesse tipo de operação, a cirurgia bariátrica pode produzir mais úlceras (o ácido estomacal passa a cair diretamente no intestino) e hérnias (um estrangulamento por excesso de alimentos, por exemplo). Mesmo assim, para obesos mórbidos que desenvolvem diabetes, hipertensão, dificuldades respiratórias e outras complicações, a redução de estômago é resposta rápida, certeira e cada vez mais recomendada. Gordo, mas não obeso, Faustão encontrou no diabetes a motivação para entrar na faca. Fez a cirurgia desenvolvida pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula: a parte final do intestino delgado, o íleo, em que se produzem hormônios que facilitam a secreção de insulina, é reposicionada próximo ao estômago, que por sua vez é reduzido para diminuir a produção de grelina, o hormônio do apetite. "Quando o paciente é obeso, retiram-se de 30% a 40% do estômago", diz De Paula. "A diminuição de peso vem a reboque do controle da doença metabólica."