Silêncio rasgado Pedofilia na classe média: pais e padrastos são os
Nos últimos cinco anos, o número de casos de violência sexual contra crianças de classe média subiu de zero para 22% nos registros médicos oficiais de São Paulo. É o que mostra uma pesquisa inédita realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor) do Hospital das Clínicas de São Paulo. Coordenado pelo psicólogo Antonio Serafim, o estudo baseou-se na análise dos casos de 118 vítimas de pedofilia que chegaram ao Nufor de 2004 a 2008 (entre as atribuições do instituto está a avaliação psicológica de crianças suspeitas de ter sofrido abuso sexual). Os números, porém, não significam que a incidência desse tipo de crime tenha aumentado na classe média, que inclui famílias com rendimento entre 2 000 e 6 500 reais. Também não querem dizer que parentes de vítimas que antes preferiam se omitir passaram a denunciá-lo. O que mudou de cinco anos para cá, afirmam especialistas, é que a pedofilia ficou mais visível por iniciativa de pessoas não diretamente envolvidas com as vítimas.
O aumento da disseminação de informações sobre a pedofilia não atingiu apenas adultos. Na rede social Orkut, acessada principalmente por crianças e adolescentes, já existem diversas comunidades formadas por vítimas de abuso sexual. A SOS Abuso Sexual, por exemplo, reúne 2 126 membros que trocam mensagens como a assinada por Letícia, de 11 anos, moradora de São Luís do Maranhão. Dirigindo-se à comunidade em geral, ela pergunta sobre o suposto agressor: "E se eu denunciasse e ele saísse da cadeia? Ele iria me machucar. Gostaria de saber se há alguma possibilidade de ele sair, pois tenho medo dele. Alguém poderia me responder?". No conselho tutelar que abrange, em São Paulo, os bairros de Pinheiros, Itaim Bibi e Jardins, todos de classe média alta, atendentes já chegaram a receber a ligação de uma criança perguntando o que deveria fazer para denunciar um caso de abuso sexual. Para o psicólogo Serafim, o aumento do acesso das crianças ao tema ajuda também a fazer com que elas entendam que se trata de um crime: "Muitas, por desconhecimento, consideravam naturais certas condutas abusivas", afirma. Há quinze anos, o Hospital Pérola Byington, em São Paulo, criou um serviço de atendimento a vítimas de violência sexual destinado a mulheres adultas. Com o tempo, cada vez mais crianças passaram a ser atendidas. Em 2008, 47% das pacientes tinham menos de 12 anos de idade. É um quadro chocante, mas também alentador. Prova de que está mais difícil esconder essa prática ignominiosa que desgraça existências em seu começo.
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