"Foi um colega de vocês", disse o general Felix, do Gabinete
de Segurança Institucional, ao reconhecer que um espião
da Abin foi o responsável pelo grampo no STF, denunciado
por VEJA. Os fatos, como se sabe, são teimosos
Expedito Filho
|
VEJA TAMBÉM
|
O general Jorge Armando Felix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, é guardião de um segredo capital: a identidade do agente da Abin responsável pela revelação da existência de uma rede clandestina de espionagem contra autoridades da República patrocinada por agentes do governo. No fim do ano passado, em uma reunião fechada na sede da Abin, em Brasília, Felix admitiu na frente de centenas de testemunhas que o grampo telefônico ilegal contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes, foi obra de um servidor da Abin – "um colega de vocês", nas palavras do general. Ele não revelou o nome do acusado, não esclareceu em que setor estava lotado, se era civil ou militar, aposentado ou da ativa. Disse apenas que o suspeito já estivera envolvido em outro caso semelhante e que a Polícia Federal também já conheceria sua identidade. Em público, o general sempre negou com veemência o envolvimento de seus subordinados no escândalo dos grampos clandestinos. Ao admitir que um de seus espiões foi o responsável, o ministro Felix confirma o que a Polícia Federal tenta há meses comprovar: a ação de espionagem da Abin contra o presidente do STF.
A reunião em que o ministro Jorge Felix reconheceu a participação de um de seus espiões no caso ocorreu na manhã de 13 de novembro, três meses após o escândalo que provocou a queda do diretor da Abin, o delegado Paulo Lacerda, e oito dias depois de agentes da PF terem apreendido computadores, documentos e equipamentos de espionagem nos escritórios da agência no Rio de Janeiro e em Brasília. O general queria tranquilizar seus subordinados sobre os últimos acontecimentos. Pediu sigilo sobre o que seria dito e passou a relatar suas impressões sobre o caso. A reunião, como é de praxe, estava sendo gravada. O ministro comentou a reportagem de VEJA que revelou o grampo ilegal contra Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres: "Infelizmente, tem ocorrido uma série muito grande de vazamentos, vazamentos ocasionados por colegas de vocês. Desde o vazamento que deu origem a toda essa celeuma, a essa reportagem. Foi vazada por um colega de vocês, está claramente na reportagem (...)", admitiu. Com o auditório em silêncio, o general Felix, sempre pedindo reserva sobre suas declarações, continuou: "De modo que a PF sabe quem vazou. Da mesma forma consta aqui que foi a mesma pessoa que vazou a outra reportagem que saiu na IstoÉ (apontando um agente aposentado da Abin como o autor de grampos ilegais). De modo que vocês são homens e mulheres de inteligência e podem procurar saber quem foi. Fica o registro. Eu lhes peço que não deixem vazar".
Dida Sampaio/AE |
PARECE AMEAÇA |
O ministro do GSI afirmou que "consta" que a Polícia Federal também saberia a identidade do espião e que teria conseguido tal informação a partir de um depoimento de um repórter de VEJA. (Nota da redação: a declaração do repórter de VEJA mencionada pelo general nunca ocorreu.) A PF informa oficialmente que o inquérito não foi concluído exatamente porque ainda não foi possível identificar o autor, ou autores, do grampo. O ministro Jorge Felix poderia ajudar a elucidar de vez o mistério com suas valiosas informações. Além do general, estava presente à reunião, que durou quarenta minutos, o diretor interino da Abin, Wilson Trezza. Ele pediu aos colegas que evitassem um clima de conflito com a Polícia Federal. "É um suicídio institucional para ambos se esse clima de animosidade acontecer", previu Trezza. Soou como ameaça, diante das investigações policiais que vêm devassando a ação clandestina da Abin. "É a primeira vez que uma autoridade admite que a informação sobre o grampo vazou da Abin. Vamos estudar com cuidado esse material, que já chegou à CPI dos Grampos, e, se for o caso, convocaremos o general para esclarecimentos", disse o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), presidente da comissão. O Gabinete de Segurança Institucional não quis comentar o assunto.