Debaixo do capô do Chrome
As invisíveis engrenagens do navegador do Google,
criado para concorrer com o Explorer, da Microsoft,
e que atraiu 6,5 milhões de usuários em 24 horas
Carlos Rydlewski
MULTIPROCESSO O navegador cria um processo específico para cada página aberta na internet. Isso evita que a lentidão em um site (por exemplo, no YouTube) afete o desempenho de outras páginas com mapas, e-mails... O sistema é chamado de multiprocessador. |
A internet nunca foi estável, mas agora passa por um processo de metamorfose mais acelerado. A rede já não se resume a um gigantesco arquivo ou a uma máquina planetária de comunicação. Hoje, abriga um crescente número de programas que podem ser acessados remotamente pelos usuários. São softwares como editores de texto, planilhas para cálculos e serviços de e-mail. Poucos anos atrás, esse tipo de ferramenta funcionava somente quando instalado na memória dos computadores. Paralelamente, aumenta o volume de dados que circula pela web. Estimativa da consultoria americana TeleGeography aponta um crescimento anual de 50% no fluxo global de informações. Nas conexões entre os Estados Unidos e a América Latina esse número supera a marca de 100%. A conseqüência direta dessas mudanças é o surgimento de ferramentas que tentam se adequar à nova realidade do mundo digital. Na semana passada, foi a vez de o líder do mercado de buscas, o Google, lançar em mais de 100 países, com versões em 43 línguas, um navegador próprio, o Chrome.
JAVA, MAS NÃO A ILHA Testes indicam que o Chrome é o navegador mais rápido da web. Algo perceptível na apresentação de vídeos (foto acima). Para obter esse desempenho, os técnicos alteraram o motor do JavaScript (uma linguagem de programação). Esse mecanismo lê os códigos das áreas de processamento intensivo dos sites. |
Ele teve uma acolhida espetacular. Em 24 horas, foram feitos 6,5 milhões de downloads gratuitos. Nesse espaço de tempo, o produto alcançou uma participação de 2,7% no mercado de browsers. Ao longo da semana, porém, o ritmo de adesões diminuiu. Estabilizou-se em 10 milhões. O navegador do Google é minimalista na aparência – mas só na aparência. Sob o capô estão engrenagens digitais que chamam atenção. Tecnicamente, é muito leve. Consegue funcionar com eficiência ao usar linhas de código computacional mais econômicas – à semelhança do texto de um bom escritor, que em poucas palavras descreve uma cena, um personagem ou uma paisagem.
O Chrome gerencia as páginas na internet de maneira mais racional. Os browsers mais utilizados, como o dominante Explorer, da Microsoft, exigem muito dos processadores dos PCs, quando o usuário abre sites em "abas" diferentes. Uma fica na tela e as demais, à espera de um clique. Isso, obviamente, afeta a velocidade dos processos. O Chrome privilegia a aba ativa, e as ações requeridas para as outras passam a estar em segundo plano. Imagine-se lendo um jornal. Toda a sua atenção é dedicada à página lida naquele momento, não é isso? É essa escolha simples e racional de recursos que só o Chrome faz. Mas nenhuma novidade dura mais que um mês no concorrido mundo dos navegadores da web.
VIGILÂNCIA? Os navegadores guardam o histórico dos sites visitados na web. Esses dados são valiosos e servem para definir um perfil do usuário na rede. Com base nessas informações, o Chrome sugere endereços assim que uma pessoa começa a digitar uma palavra na barra superior do sistema. |
Outra peça de destaque do browser do Google é uma barra na qual se escreve o endereço do site que se deseja visitar. Quando se digitam poucas letras – duas ou três –, o Chrome oferece sugestões de sites. Faz isso com base nas escolhas pregressas do usuário. Ele aprende. Exemplo: um engenheiro aeronáutico, ao teclar a palavra "vôo", terá mais chance de ser endereçado rapidamente a um site técnico do que ao de uma companhia aérea. Essa e outras informações sobre os hábitos de navegação dos usuários se tornam úteis também para os negócios do próprio Google. O conjunto desses históricos de navegação é um dos bens mais valiosos da internet. Esse conhecimento permite a construção de serviços e anúncios talhados para grupos específicos de pessoas. Apesar dessas engrenagens, desbancar o Explorer, da Microsoft, que domina 70% do setor, é um objetivo difícil para o Chrome. Mas, tratando-se do Google, toda metamorfose é possível.
Este, sim, é inovador O Firefox 3, da Fundação Mozilla, é o navegador com maior número de inovações. A versão lançada em junho teve 8,4 milhões de downloads em um dia. Além de rápido, o Firefox 3 tem complementos fantásticos como o Cooliris (ex-PicLens), que apresenta imagens da internet em um painel virtual (foto acima). O Ubiquity permite o acesso rápido a mapas ou a vídeos associados a qualquer palavra digitada num texto. Ele corta etapas na navegação. |