Benedito Sverberi e Luís Guilherme Barrucho
The New York Times |
"MICROHOO" Carol Bartz, do Yahoo!, e Steve Ballmer, da Microsoft, assinam o acordo: unidos para bater o Google |
Nos 46 segundos e 91 centésimos que o nadador brasileiro César Cielo levou para vencer, na semana passada, a prova dos 100 metros livres do Mundial de Natação em Roma, 1,4 milhão de buscas foram feitas na rede mundial de computadores em todo o planeta. E o Google – marca que, como nenhuma outra, se transformou em sinônimo de internet – ficou com 70% desse total. No Brasil, a preferência é ainda maior: segundo a consultoria Predicta, 95 em cada 100 operações de busca são feitas com ele. Usar o Google quando necessitamos encontrar algo na internet beira a uma ação instintiva, como se estivesse cravada em nosso subconsciente ou em nosso DNA. Tal domínio demonstra a competência do sistema criado, há onze anos, por dois então estudantes da Universidade Stanford, os hoje bilionários Larry Page e Sergey Brin, cujo modelo matemático é capaz de entregar resultados de pesquisas de forma mais eficiente do que a da concorrência. Qualquer candidato a desafiar o Google, portanto, terá uma missão dupla: possuir uma ferramenta de buscas ainda mais poderosa e, além disso, convencer milhões de pessoas a abandonar um hábito que se tornou mecânico em seu dia a dia. Esse será o desafio à frente da Microsoft e do Yahoo!, que, na semana passada, selaram um acordo para tentar solapar o poderio do atual líder absoluto.
A parceria será válida por dez anos e combinará o novo sistema de buscas da Microsoft – o Bing – com a experiência do Yahoo! em atrair anunciantes. A Microsoft passará a fornecer tecnologia de buscas na internet para os sites do Yahoo!, enquanto este cederá a força de sua equipe de vendas para o atendimento de grandes contas de publicidade na internet de ambos os grupos. O Yahoo!, presidido por Carol Bartz, focará também no aprimoramento de seus portais, que estão entre os de maior audiência no mundo. Mas é a companhia de Bill Gates, agora comandada por Steve Ballmer, que cuidará de todo o desenvolvimento tecnológico do programa de buscas e da rede de servidores necessários ao seu funcionamento. A estratégia por trás do acordo, que ainda terá de ser aprovado pelos órgãos de defesa da concorrência, é impulsionar a utilização do Bing, atraindo mais receita com publicidade. Analistas estimam que o Google fique hoje com 75% do faturamento obtido nos Estados Unidos com links patrocinados, que é o negócio mais lucrativo da internet – são aqueles anúncios que aparecem ao lado na tela do computador sempre que se faz uma operação de busca.
Segundo o balanço do Google do segundo trimestre, 97% de seu faturamento veio desses links. Não é à toa que a companhia quer capturar o usuário de todas as formas e levá-lo para a internet. "O Google cria mecanismos para tornar a navegação na internet mais intensa. Desse modo amplia o potencial de vender mais e em condições mais vantajosas seus serviços de links pagos", explica o presidente da Predicta, Marcelo Marzola. Esses "mecanismos" são aplicativos dos quais muita gente não se dá conta que pertencem ao Google: Orkut, YouTube, Blogger, Picasa, Chrome e Gmail, entre outros. "A companhia está sempre buscando a inovação para evitar a obsolescência de seu próprio produto", diz o diretor do centro de inovação e criatividade da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Paulo Sérgio Quartiermeister.
Esse modelo empresarial, o mais promissor na internet, é agora emulado por Microsoft e Yahoo!, empresas que pertencem a gerações mais antigas na indústria da informática. A principal fonte dos lucros da Microsoft, por exemplo, ainda é a venda de programas para computadores e do seu sistema operacional, o Windows. Mas trata-se de um negócio do passado, desafiado a cada dia por novos e melhores programas oferecidos gratuitamente – entre eles o navegador Chrome, desenvolvido pelo próprio Google. Como afirmou certa vez Jack Welch, o lendário ex-presidente da General Electric: "Se a mudança está ocorrendo fora da empresa mais rápido do que dentro dela, o fim está próximo". É desse destino que a Microsoft e o Yahoo! tentam se salvar. Por enquanto, o Google segue no comando. Prova disso é a maneira irônica como foi apelidado o Bing, da Microsoft: But It's Not Google – ou seja, "mas não é o Google".