Irã e crise nos EUA - VINICIUS TORRES FREIRE
Política

Irã e crise nos EUA - VINICIUS TORRES FREIRE




FOLHA DE SP - 11/01/12

DESDE O ÚLTIMO dia de 2011, os Estados Unidos podem retaliar instituições financeiras que fizerem negócios com o banco central do Irã. Na prática, Barack Obama ameaça asfixiar o Irã por meio de um embargo financeiro aos pagamentos das vendas de petróleo.

O motivo da pendenga, claro, é a suposta produção de material nuclear que pode ser utilizado na fabricação da bomba iraniana.

Ninguém está ligando muito. Só um pouco. O preço do petróleo em Nova York subiu pouco mais de 20% em três meses, entre outros motivos devido à crise iraniana. Mas o grosso da alta se deveu a uma baixa relativa do pessimismo econômico.

Obama na prática tem quatro meses para decidir sobre o fechamento das finanças americanas a instituições que façam negócios com os iranianos. Além do mais, pode não aplicar as sanções caso não exista ameaça à segurança nacional.

Ainda assim, o governo americano ligou o botão de uma máquina de crise; precisa administrá-la, sem parecer molenga.

Até o final do mês, a União Europeia decide quando e como vai implementar o embargo ao Irã. O Reino Unido, a reboque dos EUA, como de costume, quer logo partir para a ignorância. Espanha, Itália e Grécia, clientes do Irã com contratos em andamento, querem um acerto que não abale ainda mais suas economias em parafuso.

Os EUA esperam que Japão e Coreia do Sul entrem no jogo de sufocação do Irã. Dizem o mesmo à China, que, no entanto, faz o que lhe dá na telha. A Rússia vai na mesma linha e, de resto, pode triangular pagamentos de países para o Irã.

Tensão vai haver. Sabe-se lá o que Israel pode fazer. Extraoficialmente, há gente no Irã a dizer que, vindo embargo, fecha o estreito de Ormuz, por onde passam 20% do petróleo mundial.

Pode ser bravata, mas no Irã há centros de poder descoordenados, um tanto independentes, e alguém pode fazer besteira (soltar um míssil no estreito, ao menos). Mas, apesar da tensão, o script mais razoável da história é de escalada sobre controle, segundo entendidos.

A Arábia Saudita forneceria óleo para europeus e asiáticos aliados dos EUA (embora essa abertura de torneira não seja assim tão simples, tanto em termos logísticos como contratuais). A China daria um alívio para o Irã. A Rússia serviria de banco para empresas de outros países comprarem óleo do Irã.

Cerca de 65% do petróleo iraniano vai para a Ásia (China, Japão, Índia e Coreia levam 52% das vendas do Irã); 18%, para a União Europeia.

Se os americanos apertarem a cota e produzirem uma crise feia, o preço do petróleo sobe. Os EUA quase recaíram em recessão em 2011, quando o preço do petróleo subiu devido às guerras civis no mundo árabe (e também porque sofreu efeitos do terremoto no Japão, de enchentes horríveis e, claro, da baderna europeia).

Obama vai provocar carestia da gasolina em ano de eleição? Uma bravata guerreira nacionalista compensaria o efeito negativo nos bolsos americanos?

O Irã, por sua vez, atiraria no pé, talvez na cabeça, se fechasse o estreito de Ormuz. Não exportaria nada. Na verdade, se o Irã tomar tal atitude alucinada, vai haver coisa muito pior, mas passemos.



loading...

- A Guerra Do Irã Já Começou. Eua E Israel São Acusados Pelos Assassinatos.
TEERÃ, 11 JAN - Um cientista nuclear iraniano foi morto pela explosão de uma bomba instalada em seu carro nesta quarta-feira, em um ataque que o vice-governador de Teerã disse ter sido cometido por Israel. O atentado aumentou a tensão entre o Irã...

- A Guerra Do Irã Já Começou. Eua, França E Inglaterra Vão Pagar Para Ver?
limao.fotos Vermelho Tensão contra o Irã: o imperialismo vai pagar para ver? A crescente tensão que opõe, de um lado, Estados Unidos e União Europeia (França e Reino Unido, particularmente) e o Irã, demonstra, mais uma vez, que a real ameaça...

- Roberto Abdenur - Três Crises E Uma Incógnita
Folha Problemas na Grécia e na Síria preocupam, mas bem mais agourenta é a situação envolvendo hoje o Irã Três crises assolam de momento o contexto internacional: Grécia, Síria e Irã. Cada uma, em seus termos, prenhe de consequências negativas....

- Vinicius Torres Freirepetróleo, Choques E Faíscas
A notícia econômica mais preocupante, talvez assustadora, no cardápio das possibilidades imediatas ainda é a de um tumulto longo na política da Arábia Saudita. Mas, enquanto se espera que a novidade catastrófica de choque do petróleo (não) venha,...

- Vinicius Torres Freire Petróleo Em Revolta E O Brasil
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/02/11 Choque menor de preços pode ser "amaciado" pela Petrobras; "estagflação", por ora, é um risco distante DEPOIS DO zum-zum-zum por enquanto algo histérico sobre o risco de nova crise econômica global, devido ao aumento...



Política








.