O GLOBO
Copom ignora pressão feita pelo mercado e mantém a redução de cem pontos na Selic
ESCREVO ESTA coluna sob o impacto de dois eventos que mostram as grandes mudanças que vivemos na economia brasileira. Tenho repetido que é preciso estar atento ao NOVO para evitar erros de análise e de entendimento sobre momentos como este. A primeira e agradável surpresa veio da decisão do Copom de ignorar a pressão feita pelo mercado e manter a redução de cem pontos na taxa Selic. O Banco Central já havia mostrado irritação com o conservadorismo das instituições financeiras ao mostrar, na ata da reunião do Copom de abril, as inconsistências entre os juros futuros e as projeções de inflação para 2010.
Fato inédito em sua história, esse verdadeiro puxão de orelhas levou a uma imediata redução das taxas de juros de prazo mais longo na BM&F. Mas, nos últimos dias, houve uma reversão desse movimento e as taxas chegaram a níveis recordes novamente. Na última quarta-feira, antes de conhecida a decisão do Copom, a taxa Selic para dezembro de 2010 estava sendo negociada a 12,7% ao ano. Como as previsões do próprio mercado apontam para 4,3% de inflação no próximo ano, estaríamos voltando a um juro real de 8%. Nada hoje permite prever que tenhamos de voltar a esse nível para manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo sistema de metas em vigor.
As justificativas balbuciadas pelos operadores e alguns membros do Copom são, para dizer pouco, patéticas. Em uma coluna do jornal "Valor", uma anônima fonte do BC citou o fato de que sempre em ano de eleições a taxa de câmbio se desvaloriza e provoca um aumento da inflação.
Aqui o desconhecimento de questões econômicas se junta a uma total ignorância da dinâmica política atual. Os dois candidatos de maior potencial para as eleições de 2010, pela primeira vez em muito tempo, são contra a qualquer descontinuidade da política econômica que prevalece a quase 16 anos no Brasil.
E cito agora o segundo evento que reforça esta minha tese de que o Brasil de hoje é diferente daquele que os conservadores do mercado financeiro ainda têm na cabeça. Em entrevista à agência internacional de notícias Reuters, o presidente Lula declarou: "O BC não tem de atender a apelo político. O Banco Central tem de fazer as coisas que precisa fazer para garantir a estabilidade de nossa política econômica".
Será que preciso discorrer mais sobre o significado histórico dessas palavras ou elas falam por si só? Será que ainda precisamos pagar um prêmio elevado por conta das incertezas quanto à atuação do Banco Central na busca de seus objetivos de política monetária? Além desse novo ambiente político para ação do Banco Central, tenho insistido à exaustão sobre um novo marco que foi criado por ser o real hoje uma moeda forte e internacionalmente aceita. As importações como fonte de oferta de bens estão hoje consolidadas na nossa economia, representando um novo mecanismo auxiliar no controle da inflação.
Como vivemos um período em que moedas de países emergentes, o real entre elas, passam a representar um canal importante na diversificação de ativos dos grandes investidores, sua eficácia fica ainda maior.
Volto a dizer que, nessas novas condições do mercado de câmbio, será necessário que os juros reais no Brasil convirjam para os de outros países emergentes sob o risco de uma valorização adicional de nossa moeda. O Banco Central não deve, como quer o mercado, continuar trabalhando com um prêmio de cerca de 2% ao ano na taxa Selic por conta de riscos que não existem mais.
Copom ignora pressão feita pelo mercado e mantém a redução de cem pontos na Selic
ESCREVO ESTA coluna sob o impacto de dois eventos que mostram as grandes mudanças que vivemos na economia brasileira. Tenho repetido que é preciso estar atento ao NOVO para evitar erros de análise e de entendimento sobre momentos como este. A primeira e agradável surpresa veio da decisão do Copom de ignorar a pressão feita pelo mercado e manter a redução de cem pontos na taxa Selic. O Banco Central já havia mostrado irritação com o conservadorismo das instituições financeiras ao mostrar, na ata da reunião do Copom de abril, as inconsistências entre os juros futuros e as projeções de inflação para 2010.
Fato inédito em sua história, esse verdadeiro puxão de orelhas levou a uma imediata redução das taxas de juros de prazo mais longo na BM&F. Mas, nos últimos dias, houve uma reversão desse movimento e as taxas chegaram a níveis recordes novamente. Na última quarta-feira, antes de conhecida a decisão do Copom, a taxa Selic para dezembro de 2010 estava sendo negociada a 12,7% ao ano. Como as previsões do próprio mercado apontam para 4,3% de inflação no próximo ano, estaríamos voltando a um juro real de 8%. Nada hoje permite prever que tenhamos de voltar a esse nível para manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo sistema de metas em vigor.
As justificativas balbuciadas pelos operadores e alguns membros do Copom são, para dizer pouco, patéticas. Em uma coluna do jornal "Valor", uma anônima fonte do BC citou o fato de que sempre em ano de eleições a taxa de câmbio se desvaloriza e provoca um aumento da inflação.
Aqui o desconhecimento de questões econômicas se junta a uma total ignorância da dinâmica política atual. Os dois candidatos de maior potencial para as eleições de 2010, pela primeira vez em muito tempo, são contra a qualquer descontinuidade da política econômica que prevalece a quase 16 anos no Brasil.
E cito agora o segundo evento que reforça esta minha tese de que o Brasil de hoje é diferente daquele que os conservadores do mercado financeiro ainda têm na cabeça. Em entrevista à agência internacional de notícias Reuters, o presidente Lula declarou: "O BC não tem de atender a apelo político. O Banco Central tem de fazer as coisas que precisa fazer para garantir a estabilidade de nossa política econômica".
Será que preciso discorrer mais sobre o significado histórico dessas palavras ou elas falam por si só? Será que ainda precisamos pagar um prêmio elevado por conta das incertezas quanto à atuação do Banco Central na busca de seus objetivos de política monetária? Além desse novo ambiente político para ação do Banco Central, tenho insistido à exaustão sobre um novo marco que foi criado por ser o real hoje uma moeda forte e internacionalmente aceita. As importações como fonte de oferta de bens estão hoje consolidadas na nossa economia, representando um novo mecanismo auxiliar no controle da inflação.
Como vivemos um período em que moedas de países emergentes, o real entre elas, passam a representar um canal importante na diversificação de ativos dos grandes investidores, sua eficácia fica ainda maior.
Volto a dizer que, nessas novas condições do mercado de câmbio, será necessário que os juros reais no Brasil convirjam para os de outros países emergentes sob o risco de uma valorização adicional de nossa moeda. O Banco Central não deve, como quer o mercado, continuar trabalhando com um prêmio de cerca de 2% ao ano na taxa Selic por conta de riscos que não existem mais.