Não é gripe Panorama Econômico :: Míriam Leitão
Política

Não é gripe Panorama Econômico :: Míriam Leitão


O GLOBO

O economista José Márcio Camargo acha que o cenário com que parte do mercado trabalha é otimista demais. Pelos cálculos que fez, concluiu que há um grande risco de o desemprego subir muito neste ano e de haver forte queda da demanda, o que levará o Brasil a uma queda do PIB de 1%. "É uma pena, mas a crise econômica mundial é muito forte e não será revertida este ano."
Os indicadores econômicos têm mostrado sinais contraditórios, a produção industrial despencou, mas o varejo ficou positivo. Alguns setores estão falando de quedas fortes, outros estão se mantendo. José Márcio, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio de Janeiro, acha que isso é apenas fruto da defasagem entre os dados da produção e do varejo, porque as vendas são muito afetadas pelo desemprego, que é um indicador que reage mais tardiamente.

A demanda doméstica tem uma grande correlação com o volume de importações, e elas estão despencando e terão repercussão na economia

- A questão é que o quantum de importações está mostrando uma queda muito forte, tendo caído 22% em janeiro e 32% em fevereiro em relação aos mesmos meses de 2008. Se a queda de março for similar à média dos dois meses anteriores, o exercício que fizemos na Opus mostra que a queda da demanda doméstica no PIB no primeiro trimestre poderá ser da ordem de -6% - disse José Márcio.

Com a queda da demanda interna e a redução da produção industrial, a taxa de desemprego vai subir.

- Um exercício simples que fizemos aqui na Opus mostra que os dados de geração de emprego formal do Caged são um importante indicador antecedente da evolução da taxa de desemprego no Brasil. Supondo que a geração de emprego formal se comporte no restante deste ano como se comportou na média entre 2000 e 2008, a taxa de desemprego aberto atingiria 13% da força de trabalho em meados de 2009 e fecharia o ano em 12%. Se for similar a 2005-2008, a taxa de desemprego chegaria a 12% em meados de 2009 e terminaria o ano em 11% - calculou o economista.

Em qualquer cenário para o desemprego, mesmo no melhor, é bem acima do nível atual, que está em 8%. Isso afetaria diretamente os salários. José Márcio Camargo acredita que, com o aumento do desemprego, o crescimento da massa salarial vai cair ao longo do ano, podendo ficar negativo.

- O resultado será uma redução das vendas do varejo, que será, provavelmente, o último mercado a mostrar os efeitos da recessão.

Ele lembra que os dados não podem ser levados ao pé da letra, porque são exercícios que não têm o respaldo acadêmico.

- O objetivo é tentar chegar o mais perto possível dos números com uma metodologia que seja fácil de entender e rápida de implementar. Porém, os resultados não dão margem a sermos muito otimistas em relação ao desempenho da economia brasileira em 2009.

Por isso, José Márcio Camargo diz que entende a cautela do Banco Central na ata do Copom, mas acredita que o choque negativo de demanda vivido pelo país no fim do ano foi forte o suficiente para contrabalançar o choque decorrente da desvalorização cambial.

- Vamos ter uma forte queda da demanda e um aumento do desemprego, e a economia vai ter queda de 1% em 2009 - calcula.

Diante disso, a grande questão é qual deve ser a resposta do governo, o quanto ele pode aumentar os gastos para tentar reverter um cenário mais negativo. A queda dos juros abrirá espaço para que o governo reduza o superávit primário, desde que, diz José Márcio Camargo, a relação dívida/PIB continue em queda. Com o custo da dívida sendo reduzido, o superávit, hoje em 3,8%, poderia cair para 3%, calcula. O ponto, diz ele, não é a quantidade do gasto, mas a qualidade.

Até agora, o governo tem feito programas setoriais, como a redução do IPI para os automóveis, o pacote habitacional, que sai hoje, ou o aumento do dinheiro do BNDES.

- O governo foi surpreendido pelo tamanho da recessão e está tendo uma reação confusa e pouco racional - diz Camargo.

O exemplo é a renúncia fiscal para o setor automobilístico. O aumento da demanda, que ocorreu depois da queda do imposto, ele acha que é mais antecipação de consumo. E tudo o que se consegue é aumentar os lucros das montadoras, para que elas remetam mais lucros para tentar apagar os incêndios em suas sedes.

De fato, o governo vai reagindo ao sabor de cada lobby, sem ter uma visão geral, como tenho dito aqui, de um plano para tentar reverter o quadro econômico. Indo caso a caso, ele fica ao sabor dos lobbies empresariais. Quem for mais forte, leva. Para José Márcio Camargo, o remédio continua sendo aquele prescrito em velhas receitas.

- Existe um consenso na literatura de que, nas atuais condições, o melhor a fazer é uma redução generalizada de impostos. Como no Brasil os impostos sobre a folha de pagamentos correspondem a 45%, reduzir esse imposto é a melhor política. Diminuiria a redução do salário do trabalhador, ou evitaria a queda, reduziria o custo da mão de obra, reduziria o aumento do desemprego e da informalidade. O ideal seria isso: concentrar os recursos em redução do imposto sobre a folha salarial.

Enfim, o que atingiu a economia não foi uma gripe. O diagnóstico do governo está errado. Os remédios també



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