Fotos Vivek Prakash/Reuters e Sutton Motorsport/Zuma Press |
Farsa na pista |
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Jovem, bonito e dono de um sobrenome de peso no automobilismo, Nelson Ângelo Piquet, o Nelsinho, filho do tricampeão mundial Nelson Piquet, tinha tudo para trilhar uma boa carreira na Fórmula 1. Mas, aos 24 anos, ele a enterrou ao se revelar um profissional desonesto. Na semana passada, soube-se que Nelsinho, em 2008, ameaçado de demissão da escuderia Renault por causa de seus maus resultados, aceitou fraudar grosseiramente o GP de Singapura. Durante a corrida, para assegurar a vitória de seu companheiro de escuderia, o espanhol Fernando Alonso, Nelsinho deliberadamente bateu seu carro contra um muro, pondo em risco a sua vida e a de outros dezenove pilotos. A fraude pode ter garantido a Nelsinho mais alguns meses no emprego, mas também revelou um jovem que, na hora de decidir entre o certo e o errado, escolhe o errado. Mesmo que ele tenha sido pressionado pelo chefe da equipe, a decisão de bater o carro foi individual.
Luca Bruno/AP |
Sob pressão |
O episódio veio à tona quando a confissão por escrito de Nelsinho caiu na internet. O mentor intelectual do embuste, diz o piloto, foi Flavio Briatore, chefe da escuderia, o mesmo que demitiu o piloto no dia 3 de agosto deste ano. O que torna um rapaz que sempre teve tudo na vida incapaz de distinguir o certo do errado? Em parte, a própria criação que recebeu. Nascido na Alemanha e filho de Piquet com uma ex-modelo holandesa, Nelsinho mal tinha aprendido a andar e já estava nas pistas de corrida. Segundo dos sete filhos de Piquet, foi o escolhido pelo pai para suceder-lhe na Fórmula 1. Aos 8 anos já corria de kart. "Me perguntam se estou preparando o Nelsinho para a F 1. Sim, ele vai ter de estar lá de qualquer jeito", disse Piquet em 2001. Nelsinho teve uma equipe criada só para ele na categoria GP2, pelo pai, para prepará-lo para a Fórmula 1. O garoto sofria com a pressão. Nelson queria vê-lo brilhar de qualquer forma. Nelsinho costumava se desculpar com Piquet, choroso, quando não cumpria suas metas nas corridas. Até hoje, Piquet pai administra cada passo da carreira do filho.
Nelson Piquet, por sua vez, nunca foi um exemplo a ser seguido em matéria de retidão. Espalhou pelo mundo da Fórmula 1 que Ayrton Senna era homossexual. Piquet trapaceou em 1982, para conquistar o GP do Rio de Janeiro. Venceu a prova, mas foi desclassificado por fraudar o peso do carro e torná-lo mais veloz. Na semana passada, em Monza, onde o mundo da Fórmula 1 estava reunido para a corrida deste domingo, os comentários eram de que Nelson Piquet, para manter o filho na Renault, chantageava a escuderia, ameaçando tornar pública a trapaça na corrida de Singapura. Quando percebeu que não conseguiria seu objetivo, Piquet pai teria negociado com o presidente da FIA, Max Mosley, a confissão por escrito em troca da imunidade para seu filho. A confissão foi a cartada final para atingir Briatore. O italiano nega ter dado a ordem a Nelsinho para bater o carro. Na sexta-feira, a Renault resolveu processar pai e filho por chantagem. Na semana que vem, em Paris, a FIA se reúne para decidir quem está com a razão. Mas uma coisa é certa: a carreira de Nelsinho não tem futuro