Gabriela Carelli
Mauricio Lima/AFP |
INÍCIO ESPETACULAR O inglês Jenson Button, campeão em Interlagos: uma equipe estreante |
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O campeonato conquistado pelo inglês Jenson Button foi o último de seu tipo. Piloto da Brawn, uma equipe estreante, ele chegou em quinto lugar em Interlagos no domingo 18 e foi campeão por pontos. As mudanças no regulamento anunciadas pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para o circuito de 2010 (veja o quadro) são uma promessa de emoções mais fortes nas pistas. A principal novidade é a revogação de uma das regras mais controversas da Fórmula 1, aquela que permite o reabastecimento dos carros durante a corrida. Instituída em 1994, ela mudou a dinâmica das provas. As ultrapassagens, que no passado eram verdadeiros duelos de astúcia e habilidade entre os pilotos, passaram a ser o resultado de um planejamento estratégico elaborado nos bastidores. O momento ideal da ultrapassagem tornou-se aquele em que o rival está no boxe, abastecendo. Isso foi tão longe que a estratégia da Renault para garantir a vitória do espanhol Fernando Alonso no Grande Prêmio de Singapura de 2008 incluiu o acidente forjado por Nelsinho Piquet.
Alonso começou a corrida com o tanque meio vazio para que, mais leve, seu carro disparasse na frente dos demais. Depois que ele parou para reabastecer, Nelsinho provocou uma batida para que os outros carros ficassem retidos na confusão causada pelo acidente, assegurando a vitória do espanhol. Com a proibição do reabastecimento, todos os competidores largarão com o tanque cheio (200 litros em lugar dos atuais 110). Os pilotos terão de gerenciar variáveis como o consumo de combustível, o número de freadas e o peso extra do carro, que passará de 605 para 620 quilos. "Há vinte anos, várias provas eram decididas por pane seca. No GP da Inglaterra de 1991, Ayrton Senna ficou sem combustível na última volta e perdeu o pódio, caindo de terceiro para quinto lugar", diz o piloto Bruno Senna, sobrinho do tricampeão mundial.
Uma das controvérsias envolvendo o abastecimento nos boxes dizia respeito à segurança. No último grande prêmio, em Interlagos, o finlandês Kimi Räikkönen levou um grande susto. A mangueira de gasolina que estava presa à McLaren de seu conterrâneo, Heikki Kovalainen, não se soltou. Um pouco do combustível atingiu a Ferrari, e Räikkönen viu o fogo espalhar-se por seu carro. O uso de combustível nos treinos classificatórios também sofreu alterações. Todos os carros terão de disputar a volta eliminatória com uma quantidade mínima de combustível. Com isso, a pole position voltará a ser do piloto mais veloz, e não do detentor da máquina mais leve.
A Fórmula 1 passou por três grandes mudanças de regra nas últimas duas décadas. Todas elas tiveram como propósito equilibrar as forças entre as equipes, aumentar a competitividade entre os pilotos e resgatar a emoção das corridas. Em 1994, quando o reabastecimento foi introduzido, os dirigentes da FIA tentavam compensar a superioridade do carro do inglês Nigel Mansell, da Williams, muito mais veloz que os dos outros participantes. Perto de completar seis décadas de existência, a Fórmula 1 tem receita estimada em 4 bilhões de dólares por ano. No mundo dos esportes, só perde em faturamento para a NFL, a liga de futebol americano. Calcula-se que os fabricantes de carros de Fórmula 1 gastem, coletivamente, mais de 900 milhões de dólares anuais.
Esta temporada também foi marcada por mudanças, principalmente na aerodinâmica. A FIA acreditava, no início do campeonato de 2009, que a redução no número de ultrapassagens das últimas temporadas se devia à evolução da tecnologia e das asas aerodinâmicas dos carros. Por isso, a asa dianteira foi rebaixada e alargada, além de se tornar móvel, passando a ser controlada pelo piloto. A asa traseira ficou mais alta e mais estreita. Os pneus lisos, que estavam fora da Fórmula 1 havia doze anos, voltaram. E, para dar um empurrãozinho extra aos pilotos, foi introduzido o sistema Kers, que armazena a energia produzida nas freadas e garante um impulso de 80 cavalos aos carros quando acionado. As mudanças no design das máquinas, o sistema Kers e os pneus lisos continuam no ano que vem. A esperança da FIA, e também dos fãs, é que o controle do combustível traga de volta a magia do passado.