O bicho-papão Merval Pereira
Política

O bicho-papão Merval Pereira


NOVA YORK. Está em cartaz num pequeno cinema de Greenwich Village um documentário que tem tudo a ver com a onda de propaganda negativa que está dominando a campanha presidencial americana, faltando 28 dias para a eleição. O filme está sendo exibido em poucos cinemas pelos Estados Unidos, e em apenas uma sala em Nova York. A sessão a que assisti tinha apenas outros quatro pagantes. Trata-se de “O Bicho-Papão, a história de Lee Atwater”, um marqueteiro político ligado aos republicanos, a tal ponto que foi nomeado pelo então presidente George Bush pai, em agradecimento pelos serviços prestados, para presidir o Partido Republicano, a primeira vez que um não-parlamentar ocupou o cargo.

Nasceu com ele um estilo de fazer campanha política que continua marcando o Partido Republicano e que tem sido mais freqüente desde o último fim de semana.

Atwater é o iniciador do uso permanente da propaganda negativa nas campanhas políticas e chamou a atenção pela primeira vez em termos nacionais quando, aos 29 anos, teve papel importante na indicação de Ronald Reagan como candidato oficial do Partido Republicano em 1980 e depois na concepção de sua campanha, que teve início propositalmente na Filadélfia, lugar onde em 1963 foram assassinados três militantes dos direitos civis.

Durante o governo Reagan, Atwater trabalhou na Casa Branca e teve papel importante durante o escândalo Irã-Contras, organizando as manobras de marketing para livrar o presidente das acusações. Foi nesse período que se aproximou do então vice-presidente George Bush pai, de quem depois seria o principal assessor.

O marqueteiro de Ronald Reagan, Ed Rollins, que o levara para trabalhar com ele, dá um longo depoimento no documentário, revelando as traições políticas de que foi vítima por parte de Lee Atwater.

Atwater foi o primeiro assessor político a fazer pesquisas induzidas, e inst intivamente entendeu que poderia incutir medo nos eleitores, explorando seus sentimentos patrióticos e religiosos.

Na sua primeira campanha, em 1978, curiosamente no partido democrata na Carolina do Sul, ele ajudou a derrotar Max Heller, um popular prefeito de Greenville, dando a vitória a Don Sprouse — que fez uma campanha orientada por Atwater na qual acusava Heller de, por ser judeu, não acreditar “no nosso senhor Jesus Cristo”.

Foi a campanha de George Bush pai em 1988 que trouxe de vez a fama para Lee Atwater, e o documentário mostra bem os caminhos da campanha, começando pelas primárias, onde o primeiro a ser atacado foi o senador Bob Dole, acusado em propagandas de ser “O Senador Indefinido”, mostrando-o como um político inconsistente, que mudava de opinião a toda hora.

A tal ponto que, em um debate, perguntado pelo moderador Tom Brokaw se tinha algo a dizer a seu adversário, respondeu rispidamente: “Pare de mentir a respeito de minha história”.

A campanha negativa marcou a marcha de George Bush para a Casa Branca, e a propaganda até hoje lembrada como uma das mais sujas da história política americana foi a sobre o prisioneiro Willie Horton, condenado à prisão perpétua por assassinato, que saiu da cadeia dentro de um programa social implantado em Massachusetts pelo governador Michael Dukakis, praticou um assalto e estuprou uma mulher.

O candidato democrata, que tinha uma ampla vantagem, acabou sendo batido por Bush. O programa social tão criticado por Bush havia sido implantado pela primeira vez na Califórnia pelo então governador Ronald Reagan, mas os democratas não souberam responder ao ataque.

Durante essa campanha, Atwater ficou amigo da família Bush, especialmente do filho George W. Bush, e foi dele a idéia de fazê-lo candidato ao governo do Texas.

Lee Atwater foi apanhado no auge de sua carreira de glórias e poder por um câncer no cérebro, e morreu aos 40 anos, em 1991, ainda no cargo de presidente nacional dos republicanos.

Poucos meses antes de morrer, Atwater enviou cartas, escreveu artigos e deu depoimentos de arrependimento pelo que fizera durante sua atividade política.

“Só agora aprendi mais, com minha doença, sobre a natureza humana, o amor, a fraternidade e coisas que não entendia e provavelmente nunca iria entender.

Desse ponto de vista, há um pouco de verdade e coisas boas em tudo”, escreveu ao senador Turnipseed , a quem ajudara a derrotar espalhando a história de que, na juventude, passara por tratamento psiquiátrico à base de eletrochoques.

Pediu desculpas também a Mike Dukakis pela “crueldade” de algumas declarações, como a de que “arrancaria a carcaça” do “bastardo”.

No documentário, há um depoimento de um amigo pessoal de Atwater que tem uma visão dele completamente idealizada.

Ele garante que se Lee Atwater estivesse vivo, Bill Clinton não teria vencido a eleição contra George Bush. De fato, segundo o documentário, Atwater foi o primeiro a identificar em Clinton um rival na sucessão, e defendia que era preciso fazer tudo para impedilo de concorrer.

Conhecido como “o Darth Vader” da política, Lee Atwater marcou para sempre as campanhas políticas americanas, especialmente do Partido Republicano.

Deixou um discípulo até hoje poderoso dentro do partido , o marqueteiro Karl Rove, que atuou nas campanhas de George W.

Bush em 2000 e 2004 e até hoje é muito ouvido pela campanha de McCain.



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