Política
O Choque das Caricaturas
Gravura anti-semita de fins do século XIXA teoria do
Complot Islâmico e do
Choque de Civilizações vem sendo progressivamente elaborada desde 1990 para proporcionar uma teoria ideológica que possa substituir o antigo inimigo depois da queda da URSS repondo assim a necessidade da continua intervenção, logo da manutenção, do
Complexo Militar-Industrial norte-americano.
Uma espécie de filósofo neocon, o britânico especialista em questões orientais
Bernard Lewis(1), o estratega yankee formado em Harvard
Samuel Huntington e um consultor francês,
Laurent Murawiec(2) foram os principais autores dessa teoria, que permite justificar, nem sempre de forma racional, a cruzada norte-americana pelo Petróleo.
Se em face dos acontecimentos dos últimos anos, depois do 11 de Setembro, tudo isto demorou algum tempo a ser descodificado, as dúvidas desapareceram por completo quando foi conhecido que o famoso livro de Huntington “
The Clash of Civilizations” (
1993) tinha sido uma
encomenda da CIA. (Ver “
Peddling Civilizational Wars” em
www.counterpunch.org)
Testada pela primeira vez no desmembramento da Jugoslávia em 1996, opondo sérvios e muçulmanos, a teoria viria a servir às mil maravilhas para incutir o medo generalizado contra a
Al-Qaeda, uma criação fictícia norte-americana
conforme nos contou depois o general americano
Wesley Clark comandante da tropas de intervenção da Nato nos
Balcãs.
A decadência do capitalismo, e por consequência a queda de hegemonia da superpotência americana, o esgotamento dos recursos naturais e a guerra pelo petróleo, os fenómenos cada vez mais frequentes de catástrofes naturais derivadas do aquecimento global provocado pela emissão de dióxido de carbono cuja origem principal é o modo de vida ocidental, enfim as questões religiosas de se usar ou não usar símbolos para representar deuses, tudo tem servido às tropas de choque mediáticas para trazer à baila o choque de culturas que caracteriza o processo de globalização económica actualmente em curso.
Nada disto é novo, apenas assume uma nova forma pelos mesmos métodos que servem à implementação do velho Imperialismo, não já em nome de um país (ou de um grupo como o G8, cujo destino é uma cada vez uma maior pulverização em regiões cuja diversidade de interesses obsta a que alguns ainda chamados países possam assumir o pagamento das facturas de guerras), mas tão só em nome de uma
Casta oligárquica mundial transnacional acolitada à sombra dos neoconservadores que usurparam o poder em Washington.
Transformar isto em choque de culturas que se baseia nas relações irreconciliáveis entre as
diferentes culturas que coabitam no planeta e que irá provocar uma competição encarniçada pela sobrevivência, foi certamente a finalidade das caricaturas de Maomé, decerto de igual maneira também elas encomendadas a um manhoso jornal dinamarquês e trabalhadas posteriormente junto das camadas mais iliteratas dos fundamentalistas obstinados de ambos os lados. Maomé é um símbolo que representa o Islão. Representar Maomé como um terrorista significa
identificar todo o Islão com o terrorismo. Se esta provocação e subsquente manipulação de massas explorando a ignorância era previsível, menos expectável seria que as nossas elites literatas se deixassem arrastar neste coro vergonhoso de opiniões que transbordam dos jornais e televisões, desde o “
estamos em guerra” de Pacheco Pereira até a manifestações pela “
liberdade de expressão” às portas da embaixada dinamarquesa que nada têm a ver com o assunto, culminando no “estamos perante uma espécie de
cruzadas ao contrário que os Islão lançou contra os não-crentes” de Miguel Sousa Tavares.
Esta instrumentalização da nossa pretensa “inteligentsia” é preocupante. Será que toda esta gente ignora que os Deuses foram uma criação do Homem?, acreditam que a Virgem Maria pariu alguém que nos salvásse quando conseguiu ficar prenha dum pombo chamado Espírito Santo? Que a irmã Lúcia e os 3 pastorinhos não tiveram nada a ver com a ditadura de Salazar?
O enfrentamento entre o Islão e a nossa kultura ocidental de iconografia Cristã, que está a incendiar todo o Médio Oriente e que alastra em contínuo para o coração da Europa só poderá ter a finalidade prática de proceder à
detenção de Maomé nos diversos Guantanamos em construção. Sem que os nossos intelectuais desde a extrema-direita recém incentivada até ao Bloco dito de Esquerda se mostrem minimamente preocupados.Uma ampla frente comum deveras inverosimel, ou talvez não, se tivermos em conta a defesa de previlégios (esses sim, culturais) ameaçados.
“É aqui (e não no Iraque) que
George Bush pode, enfim, proclamar a vitória do seu programa. (…) Afinal, já quase toda a Gália está ocupada e apta a
cumprir a “bushiszação” do mundo”, concluiria
Ana Sá Lopes no DN.
Na América, um dos únicos órgão informativos relativamente independentes e dignos do nome, a cadeia de televisão
PBS promoveu um debate entre os dois pontos de vista em conflito, convidando um representante da influente comunidade muçulmana – no caso da denominada
Intifada Electrónica, e a versão oficial da “guerra santa”
cujo vídeo pode ser visto aqui.
Enquanto no Irão o diario “
Hamshari” convocou um concurso internacional de caricaturas
sobre o Holocausto e os crimes dos Estados Unidos,
assim como quem diz, à laia de lembrete: não se esqueçam de protestar também contra
as leis que proíbem duvidar do "Holocausto" na Europa.Efectivamente a nova vaga de
Anti-Semitismo não nasceu de geração espontânea. O poder económico da Alta-Finança Mundial refugiou-se durante a 2ª Grande Guerra nos Estados Unidos e é detido em grande maioria pela comunidade judaica aliada ao grupo étnico de brancos anglo-saxónicos que detêm em conjunto as maiores Multinacionais que exploram quase sem leis todo o planeta, mantendo e relançando a velha aspiração de dominarem o Mundo. Esta nova
Casta transnacional dominante não hesitará, mais uma vez, em lançar a Humanidade num novo confronto que sirva os seus interesses, pese embora os efeitos apocalípticos que se adivinham. Ainda assim, se a destruição for tão grande quanto se calcula, ela servirá os propósitos do emergente IV Reich na medida em que controlará demograficamente a população mundial. Existem estudos que apontam para que o Capitalismo só poderá ser viável e subsistir em função das capacidades de oferta e procura de Mercado se a população mundial estabilizar por volta dos 4 biliões de habitantes. É trágico, mas a guerra do Neoliberalismo contra Todos que se avizinha, de religiosa tem apenas o nome como pretexto. O seu objectivo são números. Como sempre. e o Holocausto é necessário. Como o outro também tinha sido.
Maomé em Guantanamo - cartoon publicado no site "
Rebelion"
* (1) Ver tambem: "
L`Affaire Bernard Lewis" -
O genocidio do Povo Arménio, e a sua negação pela falsificação da História.
* (2) Ver tambem: "
A Guerra no Século XXI"
* e no site Anti-War:
"
os Neocons correm pelo Ouro"
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