Os serial killers não param - GILLES LAPOUGE
Política

Os serial killers não param - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 20/03/12


Novamente o horror. Ontem, na grande cidade de Toulouse, no sul da
França, às 8 horas, quando os alunos entram em aula, um homem de
capacete parou na entrada do colégio judaico Ozar Hatorah, desceu de
sua moto, uma "superscooter", e apontou uma arma contra as crianças.

Mas sua arma travou. Então, ele pegou outra, entrou no prédio da
escola e abriu o fogo. Em seguida, montou na moto e desapareceu. Três
crianças e um professor estavam mortos.

Foi um crime racista? Antissemita? Nazista? Na semana passada, na
mesma cidade de Toulouse, e numa cidade vizinha (Montauban), um homem
em uma moto semelhante, mostrou idêntico sangue frio: utilizando armas
parecidas e mirando tranquilamente a cabeça, semeou a morte por duas
vezes. Ele abateu na rua, não crianças judias, mas três soldados,
legionários paraquedistas uniformizados.

Se, como a polícia deixa entender, estamos na presença do mesmo
assassino, seus motivos são incompreensíveis. Matar militares ao acaso
poderia revelar um ódio pelo Exército. Mas para que, dias mais tarde,
massacrar crianças judias? Os investigadores estão perdidos. Ocorre
que os três militares mortos na semana passada eram árabes e um deles
de Guadalupe. Estaríamos, então, diante de um racista delirante que
quer eliminar da terra tanto judeus quanto árabes e africanos? É
improvável.

O homem da moto seria o clássico "serial killer"? Um fanático que mata
por ideologia, como Anders Behring Breivik, o norueguês nazista que
assassinou recentemente 69 jovens numa ilha? Ou um imitador dos 2
rapazes que, na escola de Columbine (Colorado), massacraram 12
estudantes e um professor em 1999? Evidentemente, as pessoas dirão que
os serial killers costumam agir mais frequentemente nos Estados
Unidos, e a França não tem grande tradição nesse tipo de ação.

Mas um ser delirante agiu na França: Francis Heaulme, o responsável
pelos crimes, assassinou sete pessoas. Na 2.ª Guerra, o doutor Marcel
Petiot matou 26 mulheres e guardou os cadáveres em sua casa. Mas os
dois, embora entes abomináveis, não são os campeões mundiais. Eles não
rivalizam com a condessa húngara Elizabeth Báthory que, no século 16,
obcecada pela beleza, assassinou 610 jovens para banhar-se no seu
sangue a fim de preservar sua juventude.

O assassino que ontem em Toulouse assassinou quatro crianças também
matou três militares na semana passada. Será que ele merece o rótulo
de serial killer (rótulo aliás criado em 1970 que substitui o termo
utilizado na década de 30, mass murder)?

De fato, ele tem algumas características típicas dessa categoria. Não
conhecia suas vítimas, disparou ao acaso, seus alvos são vulneráveis e
têm um valor simbólico. Aparentemente, ele não teme pela própria vida.
Sua calma é aterradora.

O que preocupa neste quadro é a heterogeneidade das vítimas. Por um
lado, crianças judias. Por outro, legionários paraquedistas. Que
ligação há entre os dois grupos? A França está enojada, revoltada.
Está com medo.

Esse personagem desconhecido, ainda não identificado, embora tenha
sido fotografado por cerca de 40 câmeras de segurança, tornou-se um
fantasma de filme de terror, uma figura de pesadelo vagando pelas ruas
das cidades, que poderá, quando quiser, fazer nova matança em pleno
dia. Os criminologistas afirmam que os serial killers não param nunca.

Estão sempre recomeçando. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA




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