PRIMEIRA GRANDEZA
Política

PRIMEIRA GRANDEZA



Esquadrão anticrise de Obama reúne alguns dos
economistas americanos mais testados e respeitados.
Resta saber se os egos não vão atrapalhar


Benedito Sverberi

Pablo Martinez Monsivais/AP
A NOVA TRIPULAÇÃO
Obama anuncia Geithner, Romer e Summers (à dir.): triunfo da experiência


O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou na semana passada a equipe com a qual enfrentará a mais grave crise econômica mundial desde 1929. Com as finanças americanas assemelhando-se a um barco numa forte tempestade, Obama deixou de lado a fluida bandeira eleitoral da mudança. Deu preferência a segurança e pragmatismo. Para o cargo de maior peso, o de secretário do Tesouro, foi escolhido Timothy Geithner, 47 anos, atualmente presidente do Federal Reserve (Fed) de Nova York e vice-presidente do comitê de política monetária da instituição. No fim dos anos 90, Geithner notabilizou-se como um talentoso assessor internacional do Tesouro. Ele negociou empréstimos essenciais à solução de diversas crises que atingiram alguns países emergentes. A escolha de Geithner simboliza a garantia de uma transição sem sacolejos. Ele ocupa posição de destaque na hierarquia do Fed e é próximo de Ben Bernanke, o presidente da instituição, cuja permanência no cargo ainda é incerta. Geithner e Bernanke formularam juntos os recentes pacotes que salvaram da falência bancos como o Bear Stearns e o Citigroup, além da seguradora AIG.

Padrinho de Geithner, o ex-secretário do Tesouro (1999-2001) Lawrence Summers, de 54 anos, será o principal assessor econômico de Obama. Ele chefiará o Conselho Econômico Nacional, órgão de consultoria e coordenação criado no governo Clinton e que perdeu sua relevância no governo de George W. Bush. Polêmico ex-reitor da Universidade Harvard – Summers causou furor ao sugerir que as mulheres têm mais dificuldade para atingir um patamar de excelência nas ciências exatas –, ele dividirá as atenções do presidente Obama com outra estrela de primeira grandeza: Paul Volcker, que comandou o Fed de 1979 a 1987. Aos 81 anos, Volcker, um grandalhão de 2 metros de altura, ganha a direção de um novíssimo conselho forjado para avaliar a crise e propor medidas para combatê-la: o Conselho Consultivo de Recuperação Econômica. Completa o time econômico de Obama Christina Romer, pesquisadora conceituada da Universidade da Califórnia, com profundos conhecimentos sobre ciclos econômicos e choques monetários.


Win McNamee/Getty Images
À ALTURA DO DESAFIO
Volcker: pragmatismo e pulso firme

Embates de egos delineiam-se no horizonte? Não é o que acredita o ex-economista-chefe do FMI e professor de Harvard Kenneth Rogoff. "Summers e Geithner se conhecem há muito tempo e Volcker se dá muito bem com ambos", disse ele a VEJA. Além disso, sob uma pressão tão grande, não sobra espaço para disputa entre egos." O professor de política econômica Willem Buiter, da London School, é menos otimista. "Com tantos egos, eu prevejo um desvio significativo de esforço e tempo em embates internos em detrimento das políticas que têm de ser implementadas." Durante a campanha, Obama mostrou talento de sobra para contornar eventuais conflitos e direcionar o que há de melhor em sua equipe econômica. Além disso, é sempre melhor a sobra do que a falta de talentos. A experiência pregressa do trio Geithner-Summers-Volcker sugere que pontos de vista mais pragmáticos se sobreporão aos ideológicos.




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