Por que os políticos gaúchos preferem desprezar
os indícios de que Yeda Crusius usou caixa dois
na sua campanha ao governo do estado
Igor Paulin
Pedroso/Agência RBS |
TRILEGAL A governadora consegue evitar CPI não por ter apoio, mas porque os deputados acreditam que isso facilitará alianças em 2010 |
VEJA TAMBÉM
|
A governadora gaúcha, Yeda Crusius, do PSDB, está conseguindo evitar que a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul instale uma CPI para apurar indícios, revelados por VEJA, de que sua campanha ao governo foi abastecida com recursos de caixa dois. Até sexta-feira da semana passada, só dezesseis deputados haviam assinado o requerimento da CPI – três a menos do que o necessário. É provável que a comissão jamais seja instalada. Não pelo apoio que a governadora angariou, mas porque é mais conveniente para muitos políticos do estado. Os partidos que a sustentam – e mesmo parte da oposição – preferem que Yeda se mantenha fragilizada no cargo. Assim, ela seria obrigada a apoiar um aliado à sua sucessão, em 2010. Tudo indica que esse candidato será o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, do PMDB. O cenário agrada ao PSDB nacional, que está mais preocupado em garantir o apoio do PMDB a seu candidato a presidente, o governador paulista José Serra.
Esses cálculos quase foram por terra na quinta-feira passada, depois que aliados mais afoitos de Yeda na Assembleia pediram o impeachment do vice-governador Paulo Feijó, do DEM. Feijó rompeu com a governadora ainda durante a campanha eleitoral de 2006 e é acusado de usar o cargo para celebrar um contrato entre uma de suas empresas e uma universidade local. O vice alega que a universidade é privada e, por esse motivo, não cometeu nenhuma irregularidade. O pedido de impeachment levou dois deputados ligados a Feijó a engrossar o coro a favor da CPI, e a comissão quase foi viabilizada. Para impedir a sua instalação, os assessores de Yeda pressionaram até prefeitos.
Geraro J./Ag. RBS |
O PSDB DÁ UNS GRITOS Muito barulho, mas nenhuma prova |
Diz Romildo Bolzan, prefeito de Osório: "Não fizeram ameaças diretas, mas me disseram que a CPI paralisaria a máquina estatal". Por paralisar a máquina, entenda-se: suspender repasses do estado aos municípios. "Com medo, alguns prefeitos pediram aos deputados para não assinar o pedido de CPI", completa. Em outra frente, o PSDB gaúcho tentou negar um dos indícios de caixa dois. Em sua última edição, VEJA mostrou que, em 2006, a empresa Alliance One doou legalmente 200.000 reais a Yeda, dinheiro que não foi relacionado na prestação de contas da tucana. O PSDB alegou que o dinheiro foi incluído em uma doação maior, de 596.000 reais. Mas, como a revista também antecipou, o partido não apresentou documentos que amparem tal versão. Pelo jeito, Yeda só cai se for fisicamente, como na sexta-feira passada, quando despencou de um palanque.