Depois de ser sacudida por uma crise política
que revelou desvios de dinheiro e derrubou
assessores, Yeda Crusius recupera as finanças
gaúchas e se livra de algumas acusações incômodas
Otávio Cabral
Jefferson Botega/Ag. RBS |
ELA VOLTOU A SORRIR A governadora comemora uma safra de boas notícias: finanças em ordem e suspeita afastada |
Quando assumiu, há dois anos, a governadora Yeda Crusius encontrou o Rio Grande do Sul em estado de penúria. O déficit era de 2,4 bilhões de reais, os salários estavam atrasados, o 13º do ano não havia sido pago e uma onda de greves paralisava o serviço público. No início deste ano, quando a economia gaúcha ensaiava uma recuperação, veio a crise política. Uma CPI apontou um desvio de 44 milhões de reais em apenas uma autarquia. Aumentando a temperatura, o vice-governador, Paulo Feijó, gravou e divulgou conversas sobre supostos desvios de dinheiro para financiar a campanha de aliados. Ilhada por denúncias, a governadora viu sua popularidade despencar para menos de 10%. Seu impeachment chegou a ser pedido pela oposição. Apesar disso, Yeda manteve o ajuste fiscal, renegociou dívidas, demitiu servidores terceirizados e paralisou obras. O resultado apareceu agora, com o governo comemorando uma safra de boas notícias.
No campo econômico, a gestão da tucana zerou o déficit orçamentário, que perdurava desde 1971. Agora, pela primeira vez em catorze anos, o 13º do funcionalismo foi pago no mesmo ano e com dinheiro próprio. Os salários estão em dia e os fornecedores voltaram a ser pagos após dezessete meses de moratória. Isso só foi possível porque os gastos de custeio, responsáveis pela manutenção da máquina estatal, foram reduzidos em 37%. Os cortes, aliados a um aumento de 23% na arrecadação, transformaram-se em novos investimentos. Para os próximos dois anos, o governo gaúcho anuncia gastos de 1,5 bilhão de reais em obras. Serão construídas 300 escolas e 570 quilômetros de estradas devem ser duplicados.
No terreno político, os tucanos também comemoraram o desfecho de uma suspeita que atingira diretamente Yeda Crusius. No início do mês, o procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul, Mauro Renner, arquivou a investigação sobre a compra de uma casa pela governadora logo após a eleição no valor de 750 000 reais. Ele afastou a suspeita levantada pela oposição de que Yeda não tivesse patrimônio para fazer o negócio. Isso, naturalmente, não é um atestado de lisura de seu governo. Há denúncias graves de irregularidades administrativas que ainda precisam ser devidamente esclarecidas. Mas, do ponto de vista pessoal, é sem dúvida uma vitória. "Peguei um estado inadimplente e sem auto-estima. A única saída era um governo de gestão, austero, fechando os ralos de corrupção e melhorando a qualidade dos gastos", afirma Yeda. Ao menos em relação aos resultados de sua gestão financeira, a governadora realmente tem motivos para sorrir.