Enquanto o PT convenceu-se rapidamente de que a unidade em torno da ministra Dilma Rousseff, candidata escolhida pelo presidente Lula e não pela cúpula partidária, era a melhor aposta para a tentativa de permanecer à frente do governo, setores importantes do PSDB ainda não estão convencidos de que o governador de São Paulo, José Serra, é a melhor escolha para o partido tentar reconquistar o poder federal. Essa diferença de comportamento dá uma clara vantagem, neste momento, às forças governistas, e somente a inesperada doença da ministra pode enfraquecer sua posição na corrida presidencial. Ao mesmo tempo em que se debate mais uma vez entre dois presidenciáveis, o PSDB vai perdendo terreno numa corrida que, por decisão estratégica do presidente Lula, foi antecipada e já não há como ser freada.
Com o agravante de que o governador de Minas, Aécio Neves, é um político de mais peso e história pessoal do que Geraldo Alckmim. A decisão de Serra de não se jogar a campo até o ano que vem teria sentido se o partido estivesse unido em torno dele inequivocamente.
E, se os governos de São Paulo e de Minas Gerais, dois dos mais importantes estados da federação, servissem de exemplo das alternativas tucanas de administração - espécie de laboratórios em que a população poderia identificar que mudanças para melhor os tucanos imporiam na administração federal caso voltassem ao poder em 2010.
Ao contrário, diante da crise econômica internacional que poderia afetar a credibilidade da política governamental, o governo Lula vem adotando medidas que vêm sendo percebidas como corretas, não apenas pela população de maneira geral, mas pelo empresariado.
Mesmo que a economia esteja em recessão e que provavelmente feche o ano com crescimento negativo, e que o desemprego aumente, os incentivos fiscais para setores da indústria, os financiamentos do BNDES, o programa habitacional e as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) formam um conjunto de ações que dá a sensação de que o governo está fazendo tudo o que é possível diante de uma situação que não foi criada por ele.
O problema da oposição é que, mesmo que o PAC seja mais uma obra de ficção do que um programa planejado de mudança estrutural, e que o projeto de construir um milhão de casas populares seja mais uma peça de propaganda do que uma realidade factível, é difícil transformar isso em uma peça de oposição inteligível pelo eleitorado.
O governo parece acenar com esperança, enquanto a oposição parece querer o quanto pior, melhor.
Assim como é difícil para a oposição transformar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no grande vilão da crise - como tenta fazer o governador de São Paulo, que concentra no Banco Central as críticas ao governo, enquanto confraterniza em público com o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, na tentativa de não se atritar antes da hora com um governo popular ou, quem sabe, de fazer com que parte do eleitorado lulista o veja como uma alternativa melhor do que a oficial.
Durante todo o primeiro governo Lula e boa parte do segundo, a permanência de Henrique Meirelles à frente do Banco Central era vista como uma capitulação de Lula aos méritos da política econômica tucana, e a autonomia do Banco Central como um dos principais fatores que conseguiram equilibrar a economia brasileira, mesmo com o aumento dos gastos públicos.
Não foram poucas as vezes em que o PSDB uniu-se para defender o Banco Central dos ataques de setores petistas, que pediam a cabeça de Meirelles.
O presidente Lula, recentemente, disse que o presidente do Banco Central é o ministro que mais defende o povo, pois, com a política fiscal, a inflação está sob controle e o poder de compra da população está preservado.
Até mesmo a valorização do real, em decorrência dos juros altos, tem a vantagem de fazer a alegria da classe média, embora prejudique as exportações.
Antes de a crise estourar, a oposição tinha um discurso de gerenciamento moderno eficiente contra o aparelhamento do estado petista, e defendia as reformas estruturais como imprescindíveis para que o país pudesse crescer no ritmo dos demais emergentes.
Com a crise, o papel do Estado na economia ganhou dimensões salvadoras em todo o mundo, e o governo Lula passou a defender a justeza de sua política, mesmo distorcendo conceitos e tratando como solução definitiva a intervenção do Estado que, nos países desenvolvidos, é vista como uma solução radical e temporária.
O que era considerado erro do governo passou a ser virtude: bancos estatais, programas sociais de cunho assistencialista como o Bolsa Família, que teriam efeito duplo, em termos equitativos e de aquecimento de demanda.
O aumento do salário mínimo, que aumenta a rigidez trabalhista e o déficit da Previdência, tem também um efeito direto sobre demanda através dos programas sociais a ele vinculados.
Até mesmo o PAC, cuja maioria de obras não saiu do papel, é apontado como um programa contracíclico de efeitos sociais, comparável pelos mais governistas ao New Deal que ajudou a tirar os Estados Unidos da Grande Depressão, na década de 30 do século passado.
Mesmo sendo uma obra propagandística, o PAC faz a alegria dos empreiteiros e ajuda a dar ao governo Lula o apoio de setores empresariais importantes.
As pesquisas de opinião mostram que a estratégia está dando certo e que a popularidade de Lula ajuda a alavancar a candidatura de Dilma Rousseff.
Para não perder novamente o poder nacional, será preciso a oposição convencer o eleitorado de que Dilma não é Lula outra vez. Só resta encontrar um caminho de unidade, com uma chapa puro-sangue, que contraponha a experiência administrativa de seus principais governadores à inexperiência de Dilma.
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