A ética e os mercados
J.Scott Applewhite/AP |
O britânico Brown Ele falou a VEJA sobre a crise financeira e seu impacto no funcionamento do capitalismo, tema que é debatido em diversas reportagens desta edição |
Desde o estouro da bolha americana, em setembro do ano passado, e a feroz crise financeira mundial que se seguiu, uma questão anda cada vez mais presente na cabeça das pessoas: afinal, a iniciativa privada e seu modo de produção, o capitalismo, basea-do na perseguição individualista da riqueza, são o mal do mundo? Quatro matérias da presente edição – duas reportagens, a entrevista das Páginas Amarelas com Gordon Brown, primeiro-ministro da Inglaterra, e a coluna do economista Maílson da Nóbrega – abordam essa perplexidade e, cada uma a sua maneira, dão a ela respostas realistas e satisfatórias. Brown diz com sabedoria que "os mercados devem ser livres, mas não livres dos valores éticos". Maílson lembra que toda a discussão atual visa a restituir a função essencial do capitalismo, "que é direcionar os recursos da sociedade aos fins mais produtivos".
Uma reportagem da editoria de Economia trata da indignação geral com o pagamento de bônus milionários por parte de empresas falimentares dos Estados Unidos salvas com dinheiro público. O texto discute se a "santidade dos contratos", um dos pilares da economia de mercado, deve prevalecer sobre a ética do senso comum, que, agravada nesse caso, exige a punição dos executivos com a suspensão de seus prêmios em dinheiro, mesmo que isso lhes tenha sido garantido contratualmente antes da eclosão da crise. Casos semelhantes no passado arrastaram-se sem solução até chegar à Suprema Corte americana. Para evitar – ou apenas adiar – uma batalha constitucional, o governo dos Estados Unidos decidiu, na quinta-feira passada, simplesmente taxar aqueles bônus em 90%. A outra reportagem foi feita com base em uma pesquisa do Núcleo de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) com membros das elites econômica, política e intelectual de países sul-americanos. Os números da pesquisa indicam que, ao contrário do que ocorre na maioria dos vizinhos, empresários e autoridades no Brasil tendem a convergir para a ideia de que a economia funciona melhor quando os governos regulam os mercados, mas é um desastre quando pretendem substituí-los.