Em 2000 e agora,
de olho nos espiões
Ana Araújo |
LUZ NOS PORÕES A capa de VEJA sobre os espiões no governo FHC e Policarpo, com a reportagem da semana passada na tela do computador: contra a impunidade |
A quebra da certeza da impunidade dentro do aparelho estatal de espionagem é um dos desafios mais complexos a ser enfrentados pelas instituições políticas brasileiras. Se ainda é possível falar em "entulho autoritário" nos dias de hoje, quase um quarto de século depois da redemocratização do país, a ousadia dos porões é caso exatamente disso. Uma reportagem de capa de VEJA de 2000 demonstrou que espiões agiam livremente no governo Fernando Henrique Cardoso, desafiando a lei e a hierarquia. Depois da revelação da revista, o governo demitiu um diretor da Abin, mas não se soube de mais punições ou investigações. O resultado foi que os espiões oficiais continuaram sua vida ora prestando serviços aos mandatários de plantão, ora terceirizando suas ações em favor de causas suspeitas.
A reportagem de VEJA de 2000 foi feita por Policarpo Junior. É também de autoria dele, hoje chefe da sucursal de Brasília da revista, a reportagem exclusiva da semana passada que comprovou que houve grampo ilegal de uma conversa telefônica entre Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e o senador Demóstenes Torres. Mais uma vez, a revelação de VEJA teve efeito quase imediato. O governo afastou a cúpula da Abin e mandou investigar as suspeitas de atividades ilegais no órgão. Diz Policarpo: "Há oito anos VEJA jogou luzes nos porões da Abin e mostrou as irregularidades que ocorriam ali. O governo agiu, mas a espionagem ilegal logo voltou. Agora parece que Brasília decidiu encarar o problema de uma vez por todas". Esperamos que Policarpo seja tão bom de previsões quanto é de reportagem.