VINICIUS TORRES FREIRE O porrete e o tapinha do BC
Política

VINICIUS TORRES FREIRE O porrete e o tapinha do BC





Governo vai tirar dinheiro de banco que não emprestar o compulsório liberado. É um tapinha, mas não é solução


"O BC FEZ isso para que os bancos emprestem. Se os caras não emprestarem, toma de volta. Faz um compulsório diferenciado para os que cumprem as regras e eleva para os que não emprestarem", dizia a economia Maria da Conceição Tavares, no dia 17, a respeito da relutância dos bancos em emprestar o dinheiro que o BC liberara de seus cofres. Isto é, aquela parcela do dinheiro depositado e aplicado em bancos mas recolhida pelo BC a fim de, em tese, controlar o excesso de moeda na praça, o chamado compulsório.
"O BC deve agir com um porrete", dizia Conceição, madrinha dos "desenvolvimentistas". Bem, o BC agiu ontem com um porrete. Bancos que não usarem dinheiro liberado pelo BC para irrigar a praça com crédito vão perder uma quantia razoável. O porrete não chega a ser do tamanho de um bastão de beisebol nem de uma borduna, para ser nacionalista. Mas vale bem uma palmatória, um tapinha que dói e que havia sido preanunciado pelo governo. Na Índia, no dia 15, Lula ameaçara "tomar de volta" tal dinheiro. No dia 19, o ministro Paulo Bernardo praticamente antecipara a medida à repórter Sheila D'Amorim, desta Folha. O BC havia permitido que os bancos deixassem de recolher 70% do compulsório sobre depósitos a prazo desde que usassem o dinheiro para irrigar o mercado (um CDB é um depósito a prazo). O dinheiro deveria ser dirigido para a compra de empréstimos concedidos por bancos menores, de títulos de empresas e recebíveis (crédito a receber, direitos creditórios) que estivessem em fundos de investimento. Era uma mãozinha indireta para desafogar o crédito para empresas e para dar água a fundos de investimento que sangravam.
Segundo o último dado oficial disponível, do dia 24, os bancos deixavam no BC uns R$ 42 bilhões de compulsório sobre depósitos a prazo. O dinheiro era remunerado pelo BC por uma taxa equivalente à Selic (os bancos depositavam títulos federais, não dinheiro). Agora, 70% do depósito será em dinheiro, sem remuneração. Fica parado, sem render, a menos que os bancos utilizem tais fundos para aquelas finalidades definidas pelo BC. Quanto os bancos "perderão" se deixarem o dinheiro parado por um ano? Se a remuneração fosse equivalente à taxa média do CDB (num chute ponderado), deveria dar uns 11% ao ano (o custo médio de remuneração de todo o compulsório está em torno de 8%, conta que inclui compulsórios não remunerados). Ou seja, uns R$ 3 bilhões por ano, no caso extremo. Uma mordida, mas não um desastre.
É "intervenção dirigista no mercado"? É. Os bancos não estão emprestando dinheiro por "maldade"? Não, pois banco não rasga dinheiro. Se não emprestam é porque temem perder, pois a praça está confusa, empresas perderam muito com os derivativos malucos (oferecidos pelos bancos) e vem desaquecimento econômico forte pela frente. Mas entre a cautela e a cautela excessiva ou até malandra há espaço para uma cutucada governamental. Foi isso que o governo fez. Nem é um deus nos acuda nem solução para o crédito -para compensar a perda, os bancos podem elevar juros. É só um tapinha.



loading...

- Bc, Sem Medo De Ser Feliz Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 16/09 BC ajuda a vitaminar a economia liberando dinheiro de bancos, na esteira de seus compadres  A GENTE achava que o Banco Central do Brasil estava para ficar mais comedido depois da campanha maciça de redução de juros, que fez...

- Vinicius Torres Freire O Grande Pacotão De Lula
FOLHA DE S. PAULO Governo ofereceu centenas de bilhões em créditos e subsídios e evitou crise pior; mas, agora, conta começa a ficar pesada DESDE O INÍCIO da crise, o governo federal ofereceu cerca de R$ 96 bilhões em créditos extras a taxas...

- Vinicius Torres Freire Bancos Estatais Na Crise
BNDES quer usar dinheiro do fundo soberano (de impostos poupados) para compensar seca de crédito no mercado LUCIANO Coutinho, presidente do BNDES, quer que o banco federal tenha acesso ao dinheiro do Fundo Soberano do Brasil (o FSB, que tramita...

- O Brasil No Vendaval
Folha de S.Paulo EDITORIAL, Autoridades têm meios de prevenir efeitos indesejáveis da crise no país, como a escassez no crédito para exportar A AVALANCHE destruidora da crise global, que não pára de fazer vítimas entre instituições financeiras,...

- Miriam Leitão Crise No Sistema Financeiro
BLOG /miriam keitão BCs unidos não são garantia de sucesso A principal novidade agora pela manhã é a ação coordenada dos principais bancos centrais do mundo que vão injetar quase US$ 250 bilhões no mercado. Isso para ampliar a liquidez em operações...



Política








.