Política
(...) obrigam-me a vir para a rua gritar
Foi a 10 de maio de 1972 que José Afonso cantou pela primeira vez "
Grândola Vila Morena" num
concerto realizado no Burgo das Nacions em Santiago de Compostela na Galiza. No mesmo local seria levado a efeito em 1985 um outro concerto memorável, para angariar apoios para o cantor, que na altura lutava já contra a doença que havia de o vitimar. Só para que conste,,, para todos aqueles que tecem loas ao
artista, tentando apropriar-se da sua obra,
esvaziando-a da prática revolucionária radical que o Zeca sempre teve em vida,
a carta que o Zeca escreveu aos
militares revoltosos da assembleia de Tancos:
"Camaradas, tendo tomado conhecimento pelos jornais do vosso trabalho de consciencialização revolucionária e de algumas das vossas últimas tomadas de posição em face da actual situação politica, ofereço os meus serviços para eventuais sessões de convivio dentro dos objectivos de dinamização politico cultural e prática politica já existentes em algumas unidades progressistas do país"
José Afonso, Avenida Bento Gonçalves 3 1º Esq. Setúbal, telefone 26211
(
fonte)
No periodo imediatamente posterior ao
Golpe de Tancos em Setembro de 1975 (de onde saiu o VI Governo provisório do Almirante Bardamerda) as forças da burguesia e do Ocidente lograram finalmente inverter o desenlace das lutas revolucionárias iniciadas com a adesão popular ao golpe militar dos capitães de Abril reunidos precariamente em torno de um programa vago e cheio de ambiguidades como era o do MFA. A dualidade existente no seio do movimento, entre spinolistas e as diversas alas de militares de esquerda seria finalmente resolvida com novo golpe em 25 de Novembro de 1975. - "Este veio completar o golpe de Tancos, dissolvendo o que restava do MFA, erradicando e dispersando as Unidades progressistas e os fuzileiros que ainda funcionavam como certo poder paralelo, restabelecendo a cadeia hierárquica burguesa, e retomando o controlo sobre o essencial dos meios de informação. (o caso República). A partir de então poder-se-ia falar de Estado na completa acepção marxista do termo, isto é, Estado como instrumento suficientemente coeso e apto para a repressão, ao serviço da dominação burguesa. Mas ainda com a especificidade de que a grande burguesia nacional já tinha sido em grande parte expropriada, tratando-se portanto de um poder representativo dos interesses do Ocidente capitalista em geral; buscar-se-ia agora (não sem muitas contradições) reconstituir a grande burguesia nacional através dos seus representantes remanescentes e do apoio do capital internacional”
O Poder Está na Ponta das Espingardas
Ronaldo Guedes da Fonseca em “
A Questão do Estado na Revolução Portuguesa” (Edit. LivrosHorizonte, 1983) num fulgurante ensaio sobre este período histórico conclui:
(…) ”eliminada a força dissuasória das Unidades militares progressistas e da Armada, a GNR e a PSP podiam finalmente sair dos seus redutos e exercer plenamente o seu papel repressivo ao serviço da ordem burguesa, embora que com maiores limitações do que durante o regime fascista. Isto porque os golpes de Tancos e de 25 de Novembro não representaram nem significaram “putchs” fascistas como tal, mas sim movimentos golpistas de inspiração e objectivos correspondentes ao projecto da social-democracia para os países de capitalismo periférico, isto é, a instalação de uma democracia burguesa semi-autoritária”.
Na terrinha dos santanas e sócrates e dos pacóvios visitantes dessa sórdida metáfora do país em que se transformou o buraco do Túnel do Marquês, passaram exactamente 33 anos até o presidente cavaco abolir o prefixo “
semi”
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