“Complexo, Universo Paralelo” é um documentário filmado na “Favela do Alemão” (Rio de Janeiro), um conglomerado de barracas nos morros onde se empilham300 mil seres infra-humanos. Ao viver na cidade por um período de 4 anos, (e não 4 anos na favela como se diz na promoção), os irmãos Patrocínio em Maio de 2007 são convidados para filmar um sketch de publicidade para o rapper McPlayboy que vive por ali numa das ilhas centrais mais urbanizadas e os introduz pelos caminhos de maior degradação da favela. Confiança adquirida, pediram os 3 autorização ao responsável pelo tráfico da droga local para filmar (que foi assassinado depois da conclusão do filme, o que, se for verdade, até calhou bem para conferir uma certa aura de perigo à obra - “ninguém acreditava que era possível filmar lá e sair vivo")
Filmar a miséria e a degradação converteu-se num exercício sórdido de estética sobre um motivo deveras exótico, sem grandes (no caso nenhumas) preocupações sociológicas. É assim e acabou, (a gaja magrinha-de-fome que se vê à rasca com falta de força para parir, o mânfio que abomina aceitar trabalho escravo, etc.) nada a fazer, a não ser esperar o que Deus dará: chuva. O documentarista não tem de procurar as raízes dos problemas, só terá de mostrar as consequências visíveis. Se pretendermos uma análise mais profunda, bem vistas as coisas, o assunto ficou logo esgotado com a “Cidade de Deus” do Fernando Meirelles (''Pô cara, isso mesmo; falou tudo'', isto aqui é o que a imprensa já chamou de Faixa de Gaza do Rio) e logo após, explorando o pitoresco filão dos favelados pela óptica da novela e meios hollywoodescos empregues, tivemos a “Tropa de Elite”, a visão fascista de que o vilão operacional da droga é sempre finalmente castigado pela morte violenta, embora os bem instalados patrões e gestores do negócio (como na Politica) fiquem sempre isentos de comparência perante as câmaras. O esquema é tão rentável que está por aí a chegar a "Tropa de Elite" nº 2 em remake:
No caso do “Complexo” português, temos agora que o “universo paralelo” se translada para a diáfana alcatifa vermelha do patrocínio da Caixa Geral de Depósitos. Auditório esgotadíssimo havia três semanas, o foyer à pinha dos acontecimentos na moda, grande escabeche e claques de apoio para os jovens cineastas. Dois canais de TV afadigam-se a colher opiniões da juventude. Estranho que as duas televisões se detivessem no mesmo personagem. Foi-se averiguar quem era o famoso e lá está: era o Topê dos Morangos com Açúcar. Com a euforia ninguém sequer se dignou comparecer na habitual conferência-debate pós sessão. Mais palavras para quê? Se as ambições aqui são outras?
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