44 presidentes, dez eleições decisivas
Política

44 presidentes, dez eleições decisivas


O poder da alternância

Estadistas ou provincianos, visionários ou primitivos,
belicosos ou pacifistas, todos ajudaram o poder
americano indo embora no fim do mandato

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Quadro: Os presidentes

A guerra é a continuação da política por outros meios e Barack Obama é a continuação da busca pela manutenção da hegemonia mundial americana por meio de uma personalidade menos tóxica e desfocada do que George W. Bush. Engana a si próprio quem espera que os interesses nacionais dos Estados Unidos sejam esquecidos em favor da manutenção por todo o mandato de Obama da onda de simpatia planetária criada por sua eleição. Os antepassados paternos de Obama são da costa oeste da África, não muito longe de onde os analistas da política de Theodore Roosevelt, presidente americano de 1901 a 1909, buscaram a inspiração para resumir sua política externa – "the big stick", "o grande porrete". O ditado africano original diz: "Caminhe mansamente, mas carregue um grande porrete". E o que era essa política? A afirmação do direito de os Estados Unidos se contraporem pela força a qualquer intromissão européia nos interesses americanos no hemisfério ocidental e de intervirem militar e economicamente nos países vizinhos "incapazes de, por conta própria, manter a paz e sua soberania". A política externa de Obama não terá pálida semelhança com os autoproclamados direitos de intervenção de Teddy Roosevelt. Mas Obama é tão americano quanto Bush, cujas origens na América podem ser traçadas até a sexta geração – e o mandato que ele recebeu nas urnas é o mesmo dos que o precederam: defender a Constituição e os interesses dos Estados Unidos.

O erro está em imaginar que a alternância de poder que acaba de se processar de modo notável enfraquece os Estados Unidos. Ao contrário, a alternância é a fonte de perpetuação do poder americano. O partido de Obama, o Democrata, recrutou entre seus quadros aquele com melhor chance de quebrar o domínio do partido de Bush, o Republicano. Funciona assim desde 1800, quando Thomas Jefferson, do partido "democrata-republicano", interrompeu o poder dos "federalistas", que deram os dois primeiros mandatários americanos, George Washington e John Adams. Ninguém melhor que John Kennedy percebeu e expôs as razões e as regras não escritas da alternância de poder. Em seu discurso de aceitação da indicação de seu nome pelo Partido Democrata como candidato à Presidência, Kennedy disse que os Estados Unidos não poderiam "tolerar o luxo da manutenção das políticas" do presidente Dwight Eisenhower, que já estava havia oito anos no poder e queria emplacar seu vice, Richard Nixon, para pelo menos mais quatro. Kennedy avançou seu raciocínio pela história: "Depois de (James) Buchanan, essa nação precisava de (Abraham) Lincoln – depois de (William) Taft precisávamos de (Woodrow) Wilson, da mesma forma que depois de (Herbert) Hoover precisamos de Franklin Roosevelt". Ele via a alternância como a fonte de "energia criativa" e de renovação dos Estados Unidos.

Por essa razão, o país suportou quando o primeiro presidente americano a se eleger como um "homem do povo", Andrew Jackson, em 1828, se revelou mesmo um populista, um clientelista e um racista adepto da "hegemonia branca". Em 1860, Abraham Lincoln chegou ao poder com apenas 40% dos votos com uma plataforma abolicionista. Lincoln será para sempre lembrado como o presidente que garantiu a integridade territorial dos Estados Unidos ao derrotar militarmente os estados separatistas do sul. A vitória veio ao custo de quase 500 000 vidas dos dois lados, naquela que foi de longe a guerra que mais matou americanos. Quando os canhões silenciaram, os Estados Unidos estavam assentados sobre dimensões continentais e os escravos, livres. Seu libertador, porém, sustentava que o homem branco não tinha o direito moral de escravizar a si próprio ou a outras raças, mas era inegavelmente "superior ao negro". Lincoln temia os distúrbios que os escravos libertos poderiam produzir e apoiou a criação de programas para incentivá-los a emigrar para o México e outros países do continente. Em 1964, o texano Lyndon Johnson, vice de John Kennedy, assassinado no ano anterior, decidiu se engrandecer pela tentativa de colocar todo o peso do governo na eliminação da pobreza e da injustiça racial. Johnson construiu, assim, mais um degrau da escada que, na semana passada, conduziu Barack Obama à Casa Branca, a qual, sendo bom ou mau presidente, ele desocupará no máximo em 2017 – para que a alternância siga fazendo sua mágica.




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