Elliott Erwitt/Magnum Photos |
A segregação racial Bebedores separados no sul dos EUA nos anos 50 e um negro na Casa Branca agora: sublimação |
VEJA dedica 23 páginas desta edição ao fenômeno político de massa e de opinião pública que se formou nos 21 meses transcorridos entre o lançamento da candidatura de Barack Obama à Casa Branca e sua eleição na semana passada. Sob pena de muitos se decepcionarem com a realidade que se imporá depois que o novo presidente começar a governar, é vital não se deixar levar pelo "Oba-obamismo", a corrente popular de simpatia e esperança que por ora envolve as pessoas de forma calorosa e pouco racional. A chegada de Obama ao poder não vai tirar dos Estados Unidos o peso específico de potência militar e econômica nem arrefecer a rispidez ocasional decorrente dessa responsabilidade. Pensando nisso, as reportagens da revista procuram enxergar com clareza entre as brumas da euforia, contextualizando o impacto efetivo da vitória de Obama sobre a crise econômica, a sociedade americana, sobre o Brasil e o mundo.
Desde sua fundação por mentes estelares há 232 anos, os Estados Unidos perseguem como objetivo nacional a liderança planetária. Alcançaram-na no século XX, quando por cinco vezes – nas I e II Guerras Mundiais, no Plano Marshall, na Guerra Fria e no conflito dos Bálcãs nos anos 90 – seus "soldados-cidadãos" abandonaram suas casas para salvar do desastre militar, econômico, político e humanitário povos de regiões distantes, em especial da Europa, o berço de sua cultura e da maioria de seus antepassados. Em troca, os Estados Unidos receberam o apreço e o elogio supremo da imitação, mas também a ingratidão, o temor e o ódio.
Agora, no alvorecer do século XXI, com a eleição de Obama os Estados Unidos oferecem o espetáculo de sua própria sublimação. No espaço de pouco mais de uma geração, o país foi superando o racismo surdo e a segregação racial legalizada em alguns estados, processo que culminou com a aceitação eufórica de um negro no comando supremo da nação. Barack Hussein Obama tem nome, biografia política e história familiar que há algum tempo assustariam qualquer eleitor americano. Na semana passada, 64 milhões de americanos votaram nele. Aos olhos do mundo, esse triunfo sinaliza a reconquista pelos Estados Unidos da autoridade moral baseada na igualdade de oportunidades para todos, pedra fundamental da experiência verdadeiramente revolucionária inaugurada por Thomas Jefferson, John Adams e Benjamin Franklin na Filadélfia em 1776.