6 Lições sobre a Semana que Passou
Política

6 Lições sobre a Semana que Passou


1 – Sobre os Gregos: Respect!
Quando tinham tudo e todos contra si, quando tudo foi feito para que não resistissem, para que aceitassem uma suposta inevitabilidade, os Gregos souberam dizer “não”. E disseram-no apesar de uma pressão inarrável dos líderes europeus, apesar de todo o aparelho mediático anunciar a catástrofe caso o "não" vencesse. Fizeram-no quando o dinheiro nos multibancos começou a falhar, quando começaram a ter problemas a abastecer o seu carro, quando até os medicamentos nas farmácias começaram a faltar. Os gregos mostraram à Europa que não se deixam vencer pelo medo e pelas ameaças de caos. Disseram expressivamente “não”, dando uma lição de coragem e democracia a toda a Europa.

2 - Uma União Europeia que nos envergonhou a todos
Nos últimos anos, a União Europeia revelou a muitos o seu verdadeiro dark side, mostrando que a solidariedade entre países é pouco mais do que uma bonita proclamação. Mas nesta última semana, a UE conseguiu superar-se. A intransigência europeia bateu no fundo, opondo-se de forma veemente a uma consulta popular que as vozes mais insuspeitas consideraram mais do que legítima. Bateu novamente no fundo quando não permitiu o prolongamento da ajuda sequer por alguns dias, incentivou assim um verdadeiro clima de apreensão e terror até entre os gregos. Mais do que uma organização internacional, mostrou ser um clube, altamente empenhado na passagem de uma mensagem de força política. O sonho europeu não sai manchado deste processo. Pior do que isso: o sonho europeu saiu em cacos de todo este processo.

3 - A Democracia é boa, mas pelos vistos apenas às terças e quintas
Todos somos apologistas da democracia e todos somos defensores que um Governo cumpra o seu programa eleitoral. Mas quando um Governo, encostado à parede, devolve ao seu povo a aceitação ou não de um acordo que vai contra tudo o que prometeu, o verniz começa logo a estalar. Acusações de populismo e de carrasco do povo grego, valeu tudo esta semana para caracterizar o Governo Grego. Como é evidente, a democracia não é o melhor remédio para tudo (p.ex: não se devem referendar direitos). Mas referendar algo como o prolongamento de um programa de austeridade, alguns meses após a eleição de um Governo que prometeu precisamente o contrário, é uma decisão de profunda honestidade e maturidade democrática.

4 – Desde quando a recusa da austeridade deve ser confundida com a recusa da Europa?
Apesar dos partidários do “não” terem repetido até à exaustão que a recusa do acordo proposto não significava uma recusa da Europa, a referida narrativa muito conveniente para os defensores do “sim” permanece ainda hoje no ar. Como se a defesa do ideal Europeu pudesse ser confundida com a defesa da austeridade.

5 - Portugal não é a Grécia
Nos últimos anos, ouvimos repetidamente o discurso de que “Portugal não é a Grécia”. Hoje, a referida assunção merece o meu total acordo. Na Grécia encontramos uma maioria que não se resigna, disposta para dizer “basta”, disponível para encontrar caminhos alternativos. Não tem sido de facto esta a posição maioritária que encontramos em Portugal. O discurso do “vivemos acima das nossas possibilidades”, continua a vingar, apesar de já ter sido desmontado vezes sem conta. É triste.

6 - Em cima do muro não chega
As últimas eleições gregas obrigaram as forças políticas a posicionar-se: ou se é a favor da austeridade, ou se é contra; ou se é a favor do acordo proposto pelo Eurogrupo, ou se é contra. Em Portugal, as forças políticas posicionaram-se, mas coube ao maior partido da oposição uma prestação lamentável em todo este processo. O PS simplesmente não se conseguiu posicionar, respondendo com redundantes “respeitaremos a decisão do povo grego”. Em determinados momentos, a história já demonstrou que compensa estar em cima do muro, não tomando posição. No momento actual, as sondagens parecem demonstrar que a sucessão de indefinições pode sair cara.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental



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