Política
A bolha dos imóveis era bolha VINICIUS TORRES FREIRE
Folha
HAVIA UMA bolha no mercado imobiliário brasileiro. Ou melhor, havia o rumor de bolha, pelo menos até fevereiro, quando começaram a aparecer números que mostravam o arrefecimento das vendas de imóveis na cidade de São Paulo e números menos animados das vendas de material de construção.
No início de maio, notava-se aqui que o "indicador de sentimento" (conversas informais, apenas) dos empresários do setor era que a euforia havia passado. Pois passou mesmo. Saber o motivo da calmaria já é tarefa mais difícil.
Não temos dados estatisticamente confiáveis nem sobre preços de imóveis em São Paulo, por exemplo. Inexiste uma medida de preços interessante de acompanhar quando se pretende descobrir uma bolha pelo telescópio: a evolução relativa de preços de imóveis e aluguéis, inexiste. Economistas e pessoal do setor comem esse mingau pelas beiradas, olhando dados de vendas de material de construção civil no varejinho, no atacado e para a construção pesada, vendas de imóveis novos etc.
Esta Folha noticiou que a venda de imóveis novos caiu quase 44% no primeiro quadrimestre deste ano (em relação a 2010). Os preços, porém, subiram de 20% a 47%, a depender do número de dormitórios.
A concessão de crédito imobiliário, segundo o Banco Central, continua crescendo ao ritmo de mais de 80% sobre o ano passado (comparação mês a mês), embora não saibamos para onde vai o dinheiro.
Mas o jeitão dos números, vagos e em parte contraditórios, permite perguntar se houve mesmo uma queda grande na demanda ou esgotamento da capacidade de oferecer imóveis ou um pouco dos dois.
Nos primeiros cinco meses do ano, as vendas no varejo de material de construção cresceram 2,5%, segundo pesquisa feita pela Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção) com o Ibope.
As informações sobre o andamento da construção civil e seu comércio, de resto, não servem para avaliar o ritmo do mercado imobiliário porque, obviamente, é difícil discernir qual o motivo de altas e tombos. A queda do consumo de material se deveu ao ritmo lento das obras "fora do mercado", subsidiadas, do Minha Casa, Minha Vida, o programa de habitação incentivado pelo governo? Veio da redução forte do ritmo de investimentos públicos (como em saneamento)?
O corte de despesas do governo atingiu, como de hábito, mais o investimento ("obras") que as de custeio. Estados e municípios têm segurado gastos, mostram as estatísticas fiscais -também seguraram obras de esgoto, escolas etc.?
A alta das taxas de juros e outras dificuldades no crédito, inadimplência maior inclusive, devem estar tolhendo o "consumo formiga" (varejo) de material de construção, uma fatia grande do mercado brasileiro. Mas a alta dos juros para o consumidor já teria segurado a construção de casas novas? A importação de material de construção mais caro, devido ao real forte, deve estar fazendo estragos nessa indústria.
Enfim, parece claro que o conjunto do setor de material de construção deu uma freada abrupta. Sobre imóveis, está difícil de saber, embora a hipótese de bolha, num mercado de financiamento tão primitivo como o brasileiro, pareça ainda mais débil do que sempre.
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