FOLHA DE SÃO PAULO - 03/05/11
EMPRESÁRIOS da construção civil e do comércio de imóveis dizem que começam a sentir os primeiros sinais de outono na atividade econômica. Muito de leve, como os outonos da maior parte do Brasil: não se sentem mais os calorões do verão, apenas. Mas a gente não ouvia isso pelo menos até fevereiro.
O resultado das vendas do primeiro bimestre na cidade de São Paulo foi conhecido apenas em abril, com queda de 38% (ante janeiro-fevereiro de 2010). Mas, ainda assim, lá por fevereiro, o pessoal desse mercado dizia que não era possível dizer que se tratava de "tendência". Março, diziam então, era um mês ruim para comparações, pois cheio de feriados.
Na semana que passou, numa rodada de conversas com o pessoal do setor, percebe-se a diferença, tanto no ânimo do lado da oferta como no lado da procura. Executivos do setor dizem ver consumidores mais reticentes, mesmo no programa "Minha Casa, Minha Vida".
Considere-se, porém, o contexto dessas evidências anedóticas de "desaceleração". Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o número de lançamentos de imóveis havia crescido 20%. Mais ou menos tanto quanto o total de crédito no país (não apenas o imobiliário).
A economia está fria ou está quente? As vendas no comércio de varejo de material de construção vinham rateando no primeiro trimestre do ano. Em abril, deram uma ressuscitada. Ainda assim, no primeiro terço do ano, as vendas cresceram apenas 2,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
O comportamento da indústria de transformação nem sempre é por si só relevante para o acompanhamento do conjunto da atividade econômica. O indicador está ainda mais distorcido devido ao impacto do real forte nas vendas de vários setores. Segundo contas dos economistas do Itaú, o nível da produção industrial em fevereiro era 0,4% inferior ao nível de março de 2010 (do ano passado, atenção).
Sinal de demanda fraca? Ontem saíram os dados da balança comercial do primeiro terço do ano, de janeiro a abril. A importação de matérias-primas e produtos intermediários cresceu mais de 21% no período (sobre 2010). Desaqueceu em abril?
Não. A importação cresceu mais de 22% no mês passado (sobre abril de 2010). Trata-se de uma medida indireta da confiança da indústria no consumo adiante -se compram insumos, é porque acham que vão vender. No mês, a importação de bens de capital subiu mais de 25%. A de bens de consumo, 32%.
A nota mensal sobre a conjuntura econômica de abril dos economistas do banco Itaú tem como título "crescimento econômico desacelera". Os principais indicadores são os já conhecidos. Confiança do consumidor em queda. O volume de novos empréstimos ao consumidor em março (dado mais recente) ainda estava 7,3% abaixo do verificado em novembro de 2010, antes do início da série de medidas administrativas de controle de crédito. O comércio de varejo não cresceu em fevereiro (dado mais recente). Mas o nível de desemprego continua historicamente baixo, baixíssimo.
Em suma, há sinais discretos de perda do ímpeto quase alucinado na economia de 2010. Mas discretos e esparsos, ainda. A novela da inflação e a pendenga dos juros ainda vão continuar por um bom tempo.
Na semana que passou, numa rodada de conversas com o pessoal do setor, percebe-se a diferença, tanto no ânimo do lado da oferta como no lado da procura. Executivos do setor dizem ver consumidores mais reticentes, mesmo no programa "Minha Casa, Minha Vida".
Considere-se, porém, o contexto dessas evidências anedóticas de "desaceleração". Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o número de lançamentos de imóveis havia crescido 20%. Mais ou menos tanto quanto o total de crédito no país (não apenas o imobiliário).
A economia está fria ou está quente? As vendas no comércio de varejo de material de construção vinham rateando no primeiro trimestre do ano. Em abril, deram uma ressuscitada. Ainda assim, no primeiro terço do ano, as vendas cresceram apenas 2,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
O comportamento da indústria de transformação nem sempre é por si só relevante para o acompanhamento do conjunto da atividade econômica. O indicador está ainda mais distorcido devido ao impacto do real forte nas vendas de vários setores. Segundo contas dos economistas do Itaú, o nível da produção industrial em fevereiro era 0,4% inferior ao nível de março de 2010 (do ano passado, atenção).
Sinal de demanda fraca? Ontem saíram os dados da balança comercial do primeiro terço do ano, de janeiro a abril. A importação de matérias-primas e produtos intermediários cresceu mais de 21% no período (sobre 2010). Desaqueceu em abril?
Não. A importação cresceu mais de 22% no mês passado (sobre abril de 2010). Trata-se de uma medida indireta da confiança da indústria no consumo adiante -se compram insumos, é porque acham que vão vender. No mês, a importação de bens de capital subiu mais de 25%. A de bens de consumo, 32%.
A nota mensal sobre a conjuntura econômica de abril dos economistas do banco Itaú tem como título "crescimento econômico desacelera". Os principais indicadores são os já conhecidos. Confiança do consumidor em queda. O volume de novos empréstimos ao consumidor em março (dado mais recente) ainda estava 7,3% abaixo do verificado em novembro de 2010, antes do início da série de medidas administrativas de controle de crédito. O comércio de varejo não cresceu em fevereiro (dado mais recente). Mas o nível de desemprego continua historicamente baixo, baixíssimo.
Em suma, há sinais discretos de perda do ímpeto quase alucinado na economia de 2010. Mas discretos e esparsos, ainda. A novela da inflação e a pendenga dos juros ainda vão continuar por um bom tempo.