Política
A bossa da conquista Dora Kramer
O ESTADO DE S. PAULO
A cúpula do DEM se reuniu quinta-feira em São Paulo, anunciou que tanto pode apoiar o governador José Serra como pode ficar com o governador Aécio Neves na disputa pela candidatura a presidente em 2010 e foi jantar no Palácio dos Bandeirantes avisando que jantará em breve no Palácio das Mangabeiras.
Deu a impressão de que decidiu primeiro e foi jantar depois para comunicar a resolução.
Como o encontro com Serra estava marcado havia pelo menos sete dias, o mais provável é que o jantar no Bandeirantes não tenha sido fruto de uma decisão partidária unilateral, mas produto de uma estratégia conjunta.
Qual seja a de começar a arrumar o ambiente para a escolha pacífica do candidato da aliança PSDB-DEM e quem mais se disponha a se engajar na campanha presidencial de 2010 no terreno da oposição.
A fim de que o espírito da coisa ficasse patente mesmo, na sexta-feira o presidente do DEM, Rodrigo Maia, tratou de informar que havia se "equivocado" quando manifestou anteriormente preferência pelo nome de Serra.
Providência semelhante tomou o prefeito Gilberto Kassab, anfitrião da reunião de cúpula, cuja predileção pelo mentor de sua eleição ficou reduzida a mera "posição pessoal".
Não é. O DEM continua comprometido com a candidatura de José Serra. Assim como a direção do PSDB, aí incluídos Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e o presidente do partido, Sérgio Guerra.
De novidade, o que aconteceu foi a necessidade de acelerar o início do jogo para valer. Uma, por causa do agravamento da crise econômica, que vai exigir um posicionamento da oposição. Outra, porque a campanha do governo corre solta e sozinha.
Ninguém faz campanha sem organização e não se organiza nada com movimentos isolados e erráticos. Um equívoco, dentro dessa nova percepção da realidade, é tomar o favoritismo do governador Serra como fato consumado.
Reconheceu-se, na seara oposicionista, que o governador de Minas Gerais não pode ser tratado como um dissidente. Não pode deixar de ter reconhecido o seu direito de querer ser candidato, lutar por espaço político e dar uma satisfação ao eleitorado de seu Estado que gostaria de tê-lo como candidato e detestaria vê-lo sendo apresentado pelo próprio partido como mero coadjuvante de um jogo já decidido.
O ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, considera a oposição franca favorita em 2010, mas põe um senão no raciocínio: "Se não fizer grandes besteiras."
Aí é que está, anda fazendo várias, de acordo com avaliações internas. A principal, ausência de unidade e uma atitude compassiva ante os atritos entre aliados de Serra e Aécio.
Ninguém acredita na possibilidade de o governador mineiro sair do PSDB nem na hipótese de ele incentivar conflitos regionais. Mas, se a Aécio não interessa comprar briga com o primeiro colégio eleitoral do País, a Serra não apetece atrair a ira do segundo maior eleitorado. É forte com São Paulo, mas fica fraco sem Minas.
Na interpretação dos oposicionistas, o grande trunfo seria juntar os dois na mesma chapa.
Ideia, aliás, propagada antes da hora, o que pôs Aécio Neves em segundo plano e o desgostou (para dizer de modo ameno) profundamente.
Acionado o freio de arrumação, o roteiro começa do zero com o trabalho de composição entre os pretendentes. O primeiro ponto é elevar o status de Aécio não apenas dentro do partido, mas em todos os atos para fora dele.
Daí o passo inicial ter sido dado pelo DEM, com o recuo tático do apoio explícito a Serra.
Posto em cena o equilíbrio de forças, parte-se para a definição sobre o que fazer: pôr logo os dois blocos na rua ou esperar mais um pouco, antecipar as prévias ou apostar numa escolha sem disputa.
A escolha por meio de eleição prévia não é um desejo genuíno de nenhuma parte. Mas, caso seja a melhor solução - inclusive para Aécio apaziguar seu grupo político -, há disposição de fazer. Se fossem realizadas hoje, seu mais ardoroso defensor perderia a disputa nos diretórios regionais.
Aécio carrega a bandeira porque é a única disponível para quem quer destaque sem abrir guerra contra o governo agora. Além disso, há sempre a expectativa de que um processo de debate interno possa mudar o quadro e a ação do imponderável que o obriga a estar preparado.
Serra aceitou formalmente a proposta para não criar um atrito insolúvel. Aécio disse "eu quero", Serra respondeu "façamos" e a coisa ficou parada por aí.
Até o gesto do DEM na última quinta-feira, aparentemente inspirado no entendimento de Fernando Henrique de que caberia a Serra o passo seguinte. Mas só depois de tudo combinado entre os interessados, Aécio Neves da Cunha incluído.
Mapa
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