Plebiscito ganha força.
Política

Plebiscito ganha força.


Autor(es): # Flávia Foreque
Correio Braziliense - 27/03/2010

Governistas avaliam que a saída de cena de Aécio dá ao pleito mais ênfase nas comparações entre Lula e FHC

Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 21/8/09
Para Aloizio Mercadante, se Aécio Neves não estiver no páreo, disputa em Minas Gerais ficará mais favorável a Dilma, nascida em Belo Horizonte

O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), comemorou o anúncio do governador mineiro de desistir da candidatura à presidência em 2010. Na visão do parlamentar, a formalização abre espaço para a campanha governista em Minas Gerais. “Vamos ter uma candidata mineira. Politicamente, o anúncio de Aécio é importante para a campanha nacional”, afirmou Mercadante. Embora tenha se firmado politicamente no Rio Grande do Sul, a pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, é natural da capital mineira.

Na avaliação de Mercadante, a desistência de Aécio Neves amplia também o potencial de alianças políticas do PT e fortalece o caráter plebiscitário da disputa. Isso porque, afirma, a candidatura de José Serra, atual governador de São Paulo e ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso, facilita comparações entre os dois mandatos de Lula e os de seu antecessor no Planalto. O senador compara o desafio da oposição em 2010, diante dos altos índices de popularidade do governo Lula, com aquele que o PT enfrentou em 1994, diante do bom desempenho do Plano Real. “A nossa situação era muito difícil. A deles está mais ainda”, avalia.

Para o senador Renato Casagrande (PSB-ES), o anúncio do tucano começa a definir os nomes que irão compor a eleição presidencial. O parlamentar afirma que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), um dos nomes apontados para a disputa, pode levar vantagem com a decisão. “Quem se beneficiou de forma mais imediata foi o próprio Ciro, pela relação que construiu com o Aécio”, pondera o senador. Recentemente, o deputado do PSB, desafeto histórico de Serra, afirmou que deixaria a campanha presidencial se Aécio confirmasse sua candidatura. O tucano também acenou para o pré-candidato do PSB. “Eu gostaria de estar num projeto político ao lado do governador Ciro Gomes, mas isso não depende apenas da nossa vontade pessoal. Mas, mesmo se ele estiver num campo político e eu noutro, isso não vai impedir que nós conversemos”, afirmou Aécio no mês passado.

Apesar da desistência do governador mineiro, Casagrande pondera que Aécio ainda pode assumir a vaga de vice na chapa tucana. “Ainda dá tempo de o PSDB tentar convencê-lo a ser vice.”

Obstáculo
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), favorável a uma candidatura própria de seu partido ao Palácio do Planalto, viu na ação de Aécio mais um obstáculo à campanha de José Serra. Isso porque caso o governador de São Paulo assuma desde já o posto de candidato, terá que enfrentar por mais tempo o desgaste de ser o oponente da escolhida por Lula. Num momento em que o governo petista tem grande aprovação, esse cenário seria perigoso para os tucanos, avalia o parlamentar.

Para o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, a desistência de Aécio à candidatura presidencial não vai alterar a estratégia de campanha de Dilma. “(O anúncio) não interfere em nada, mas, dependendo de como o Aécio vai se comportar daqui pra frente, pode interferir”, afirma outro petista.
Quem se beneficiou de forma mais imediata foi o Ciro Gomes, pela relação que construiu com Aécio
Senador Renato Casagrande (PSB-ES)

A ênfase na polarização

O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vacarezza (PT-SP), disse que não pega bem comentar a articulação política da oposição, mas ressaltou que a escolha pelo nome de José Serra não muda muita coisa quanto à estratégia de Dilma Rousseff. “O problema do Serra vai ser explicar o ônus deixado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso”, diz. “No PT, todo mundo já esperava que Serra fosse o candidato do PSDB. Isso não muda nada”, conclui.

Faltaram as prévias

Patrícia Aranha

A decisão de Aécio Neves é negativa para o PSDB, segundo analistas, principalmente porque o partido abriu mão, mais uma vez, de fazer uma escolha ouvindo os filiados. O cientista político Fábio Wanderley, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), compara o episódio ao que ocorreu em 2006. “É um desfecho ruim da disputa latente que se arrastou por muito tempo, sem que acontecessem as prévias. Voltamos ao ícone negativo da decisão do último candidato a presidente, Geraldo Alckmin, em uma reunião com dirigentes da sigla em um restaurante em São Paulo. A escolha por prévias amenizaria o clima, que já não é bom para a oposição, que enfrenta alta popularidade do governo Lula.”

Para o presidente do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo, se Aécio adiasse mais o anúncio, acabaria refém do partido. “Foi uma decisão altiva, porque a indefinição do governador Serra estava transformando o governador mineiro em reserva de luxo”, diz.

Ambos acreditam que a decisão pode render frutos no futuro. “Na hipótese de eventual derrota de Serra na campanha para presidente, e com Aécio no Senado, o PSDB praticamente cai no colo de Aécio, que seria o candidato natural em 2014”, diz Wanderley.




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