A Crise
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A Crise


Em 1982, inflação era o grande vilão
Crise atual se aproxima mais do colapso de 1929, segundo analistas
Em 1979, a inflação nos Estados Unidos estava se aproximando de 14% ao ano, refletindo uma economia aquecida que crescia há quase cinco anos seguidos.

Os preços em alta foram o estopim para a recessão que se instalaria entre 1980 e 1982, na pior crise depois do colapso de 1929. Em 1980, numa ofensiva contra a inflação, ainda no governo do democrata Jimmy Carter, Paul Volcker, então presidente do Banco Central americano e atual assessor de Barack Obama, elevou os juros americanos, passando de 11% ao ano em meados de 1979 para 20% no início de 1980. A economia sofreu o baque, encolhendo dois trimestres seguidos. A inflação deu uma trégua, os juros caíram, mas o segundo choque do petróleo, desencadeado pela guerra que começava e duraria quase dez anos entre o Irã e o Iraque, inflou os índices de preços. Nova pancada nos juros, que se mantiveram altos até meados de 1981.

— O juro real americano estava em 6% ao ano. O mesmo patamar que o Brasil, país com o maior juro do mundo, tem hoje. Agora há uma política monetária invertida, com juro zero — comparou Antonio Licha, coordenador do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

Apesar da recessão que se instalou no país durante quase todo o ano de 1982, a situação atual, segundo Licha, é mais grave, assemelhando-se a 1929: — Em 1982, a crise tinha data para acabar. Com a queda dos juros, a economia reagiu rapidamente.

Hoje, ninguém sabe quando a economia vai começar a se recuperar.

Os juros altos custaram a reeleição de Jimmy Carter e elegeram o republicano Ronald Reagan, que ficou com os méritos do fim da inflação.

— Nessa época, o pensamento neoliberal ganhou espaço, com Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher na Inglaterra. Foi o período de menos regulação no sistema financeiro e menos intervenção do Estado na economia. Hoje, acontece o contrário, há um pensamento keynesiano (mais intervenção do Estado) e de controle do sistema — afirmou Licha.

Marcelo Nonnemberg, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembra de outra diferença importante: em 1982, os bancos e as empresas estavam saudáveis. As companhias estavam prontas para produzir quando a inflação estivesse controlada: — Agora, o sistema financeiro americano praticamente quebrou. Outra característica que não estava presente em 1982 era o descompasso entre a poupança do país e o investimento. O consumo das famílias foi todo financiado com poupança externa.

Para mim, o grande causador da atual crise.

Licha lembra que o sistema financeiro nos anos 80 era mais simples, dominado pelos bancos comerciais: — Não havia mercados futuros, derivativos...

(Cássia Almeida)



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