Política
A lógica que regerá 2009 Yoshiaki Nakano
A contração econômica reduz os preços de bens, serviços e ativos; prevalece a lógica da deflação
O ANO DE 2008 deverá ficar registrado na história com o início de uma grande contração econômica que ainda não sabemos quando irá terminar.
Sabemos que a grande bolha imobiliária nos Estados Unidos estourou em 2006, o que desencadeou a crise do "subprime" e que esta vem causando, desde meados de 2007, uma crise financeira global e em 2008 uma recessão econômica global. Centenas de trilhões de dólares de ativos financeiros, que foram criados durante a fase de longa expansão da economia global, geravam excesso de liquidez e sustentavam uma inflação de preços de ativos financeiros e bolhas especulativas, simplesmente "evaporaram" neste ano.
O que acontecerá em 2009? Qual a lógica econômica e financeira que regerá o primeiro ano pós-estouro das grandes bolhas e colapso global dos preços de ativos financeiros das economias dos Estados Unidos e dos países desenvolvidos?
Obviamente o ciclo econômico e financeiro já se inverteu. Com isso, a lógica da expansão econômica será substituída pela lógica da contração econômica.
Na expansão, as expectativas de elevados retornos dos investimentos produtivos estimulam o sistema financeiro a gerar ativos financeiros, dando-lhes liquidez imediata para a produção futura, e criam um ambiente de crédito barato, que estimula novos investimentos e assim por adiante. Nessa fase, os agentes econômicos expandem seus gastos sustentados pelo crédito e aumento do valor da riqueza financeira.
Quando o ciclo se reverte, a contração econômica reduz os preços de bens, serviços e ativos. Prevalece a lógica da deflação. Na deflação há grandes perdas patrimoniais. Tanto as famílias como as empresas são obrigadas a pagarem suas dívidas para não irem à falência. E a contração econômica será tão mais profunda e prolongada quanto mais exagerada for a geração de crédito e inflação de ativos.
A demanda agregada que sustenta o nível de atividade depende da renda gerada pelo emprego, mas, durante a contração, é preciso poupar, subtraindo do consumo para pagar as dívidas. As famílias norte-americanas, que não só deixaram de poupar como se endividaram para consumir mais e sustentaram uma grande expansão econômica até 2007, agora, subitamente, desde meados de 2007 até o final deste ano, tiveram perda patrimonial estimada em mais de US$ 5 trilhões.
Além disso, os economistas estimam que a taxa de poupança deverá chegar a 4% a 5% do PIB.Mesmo que não haja deflação de preços de bens e serviços, o colapso nos preços dos ativos financeiros -a deflação de ativos- muda totalmente a lógica da ação econômica das empresas e dos bancos, que têm agora também de reduzirem, a qualquer custo, as suas dívidas e recomporem os seus patrimônios para evitarem a falência.
Neste quadro, a política monetária deixa de ter efeitos e, mesmo reduzindo a taxa de juros para zero, nem as famílias nem as empresas têm estímulo para se endividarem, consumirem ou investirem.
No desespero, os bancos centrais reduzem a taxa de juros. Nos Estados Unidos, o Fed já reduziu para 0% a 0,25%, mas a economia não responde, pois ninguém está disposto a se endividar e investir. No máximo, substituem empréstimos com juros mais altos por mais baixos. É por isso que, mesmo com juros negativos, o mercado de títulos de empresas também paralisa.
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