A denúncia que tardava - EDITORIAL O ESTADÃO
Política

A denúncia que tardava - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S.Paulo - 11/02

Em meados de 2005, pouco depois de o então deputado federal Roberto Jefferson revelar a existência de um esquema de suborno de parlamentares com dinheiro público para aprovar projetos de interesse do governo do presidente Lula - o escândalo do mensalão, assim chamado pela frequência dos pagamentos -, veio à tona a denúncia de que, em 1998, a campanha à reeleição do então governador tucano de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, desviou R$ 3,5 milhões (ou R$ 9,3 milhões em valores atualizados) de duas empresas estaduais, Cemig e Copasa, além do banco oficial Bemge. Inevitavelmente, o esquema ficou conhecido como mensalão mineiro. Apesar das diferenças entre os dois casos, o nome pegou porque o seu pivô era o mesmo, o publicitário Marcos Valério de Souza. Tanto que, em 2007, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando Silva, afirmou que o mensalão mineiro foi o "laboratório" do similar federal.

De fato, Valério tomou empréstimos bancários e transferiu os respectivos valores para o caixa da campanha de Azeredo. Depois, saldou as dívidas com recursos das citadas estatais, destinados, no papel, ao patrocínio de eventos esportivos. No mensalão propriamente dito, o publicitário branqueava o dinheiro público desviado para as suas empresas mediante a contratação de empréstimos bancários fictícios. Na última sexta-feira, Azeredo foi denunciado pelo atual procurador, Rodrigo Janot, por peculato e lavagem de dinheiro. Numa iniciativa incomum, ele pediu 22 anos de prisão para o político. Por sinal, absurdos 16 anos se passaram desde os fatos e mais de 4 desde que o ministro Joaquim Barbosa, o primeiro relator da matéria, defendeu a abertura de processo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra os acusados detentores de foro privilegiado. Azeredo, atual deputado federal e ex-presidente do PSDB, compara-se ao ex-presidente Lula, que ficou fora da Ação Penal (AP) 470. "Eu também não posso ser responsabilizado."

Pode sim, porque neste caso há provas "absolutamente suficientes", sustenta Janot, de que o governador em busca do segundo mandato "participou decisivamente" da operação de desvio de dinheiro do Estado, cuja lavagem "teve a participação direta, efetiva, intensa e decisiva" de Azeredo. Além disso, existem evidências de relacionamento próximo entre o tucano e o publicitário. Entre julho de 2000 e maio de 2004, eles se falaram por telefone pelo menos 57 vezes. Na sua petição de 84 páginas, o procurador compara Azeredo não a Lula, mas ao ex-ministro José Dirceu, que divide com Valério o pódio dos principais condenados do mensalão e celas separadas no Presídio da Papuda, no Distrito Federal. Assim como o "capitão do time" do governo Lula, Janot argumenta, Azeredo cuidou de se preservar, "nunca se pondo ostensivamente à frente do esquema e permanecendo em segundo plano, em clara tentativa de ocultar sua participação nos delitos".

Ele tem 15 dias para apresentar as alegações finais em sua defesa. Depois, em data ainda indefinida, o ministro Luís Roberto Barroso, relator da respectiva ação penal, de número 536, encaminhará o seu parecer ao plenário da Corte. Outra AP, a 606, tem como réu o senador Clésio Andrade, do PMDB, companheiro de chapa de Azeredo em 1998. A extrema lentidão do processo salvou a pele de outro denunciado, nesse caso por peculato e formação de quadrilha, o então petebista Walfrido dos Mares Guia, vice-governador de Minas na gestão do tucano e, mais tarde, duas vezes ministro no governo Lula. Ele se safou por ter completado 70 anos em novembro de 2012. A partir dessa data, o prazo para a prescrição dos crimes de que foi acusado caiu à metade - e já se esgotou. Em abril, pelo mesmo motivo, o tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão, poderá requerer a alforria. Marcos Valério enfrenta no STF uma ação civil por improbidade administrativa; a ação por peculato e lavagem corre numa vara criminal de Minas, porque o processo foi desmembrado.

O essencial, a esta altura, é recuperar o que for possível do tempo desperdiçado. Os mensaleiros de Brasília, com a exceção de Roberto Jefferson, já cumprem as suas penas. O julgamento dos seus precursores ainda nem começou.



loading...

- Valério Entrega Líderes Tucanos Para Escapar De Processo No Stf
Correiodobrasil.com Marcos Valério estaria denunciando tucanos ao STF, diz advogado Os mesmos petardos jurídicos disparados do Supremo Tribunal Federal (STF) por Joaquim Barbosa, presidente eleito da Corte e relator da Ação Penal 470, contra os...

- Aécio Recebeu 110 Mil Do Mensalão Tucano, Mas é Protegido Pela Gande Mídia. (rede Globo)
Na lista do mensalão mineiro, ele aparece como receptor de R$ 110 mil pagos por Claudio Mourão, tesoureiro do ex-governador Eduardo Azeredo, para sua campanha Portal 247  19 de Setembro de 2012 às 05:08 247 – O julgamento da Ação Penal...

- A Caminho Do Matadouro - Eliane Cantanhede
FOLHA DE SP - 01/12 BRASÍLIA - Depois de amargar a longa exposição do mensalão e dos mensaleiros, o PT agora lustra seus troféus para 2014: o mineiro Eduardo Azeredo e o mensalão tucano. Na versão corrente, uma coisa era uma coisa e a outra coisa...

- Mais Um Revés Para Os Mensaleiros - Editorial O Globo
O Globo - 16/02/12 Por uma dessas coincidências, na reta final de um dos mais importantes julgamentos da história do Supremo, o do mensalão do PT, um dos protagonistas do processo, Marcos Valério, é condenado na Justiça Federal de Minas por crimes...

- Miriam Leitão:: Dois Pesos Medidos
O GLOBO O ministro Joaquim Barbosa foi coerente num país onde a moda é usar dois pesos e duas medidas. Por isso, o voto dele é um alívio. O enorme peso que recai sobre suas costas é o de manter o único movimento feito até agora para deter a corrupção...



Política








.